Romero Luiz, a serenidade do artista

O ÚLTIMO CARICATO RELEMBRA HISTÓRIAS.
Um artista de multiplas faces, assim é o pernambucano Romero Luiz

Por Marccelus Bragg

Entrevista ao Marccelus Portal

Fomos em busca de um verdadeiro oráculo. Tudo em torno deste homem é movido à paixão. Esteta por natureza,  vem se dedicando às artes em geral e mais precisamente,  às plásticas e as cênicas,  com uma competência inquestionável.

Romero Luiz, o esteta da serenidade.

Estamos falando do pernambucano, nascido na tradicional família Japiassú do Recife, Romero Luiz. Ele é ator, contracenou nos palcos baianos com atores consagrados como Jurema Pena, Carlos Hora, Carlinhos Tavares e até bem pouco tempo era o diretor artístico da Boate Tropical em Salvador. Enquanto cenógrafo iniciou a sua carreira na televisão, quando esta era ainda em preto e branco e na sua terra natal. Foi contemporâneo de personalidades inesquecíveis das artes pernambucanas como o maquiador e carnavalesco Múcio Catão e se lembra de uma ou outra passagem curiosa sobre a mais histórica das transexuais brasileiras, a Consuelo Consueláh.

Do seu Pernambuco idolatrado, as raízes que o faz embaçar os olhos ao ouvir um frevo,  ao se recordar dos Maracatus e dos Caboclinhos. Sem falar no Carnaval rico em cultura nativa, tal o Galo da Madrugada e o Bacalhau do Batata em Olinda, dos quais Romero se considera um fãn absoluto. Pintor de boa cepa, ele se apaixona pelo que faz. Depois de pintadas, ainda que encomendadas, as suas telas custam à deixar o ateliê dada as paixões do artista pelas personagens retratadas. O universo mental, a ilusão criada pelo artista é povoada por  Faunos, Escravos Africanos,  Netunos, Cristos sofridos, e como num sonho de Ìcaro, chegar ao destino final é até cabuloso, é preciso muita astúcia para compreender onde começa o Romero Luiz de verdade, em “carne e osso”.

Detalhes das pinturas do Romero Luiz

E num destes episódios que o torna mortal e próximo, citamos por exemplo a sua fase tida como “ subversiva”, pelo menos para os milicos da Ditadura,  que não queriam ver as suas telas, evocando temas como a prostituição, a pobreza e a negritude expostas em mostras concorridas. Romero até hoje não sabe onde foram parar parte de um acervo exposto em 1972 no Convento da Lapa em Salvador. Mas pelo menos deixaram uma obra sua, a pintura  surrealista “ A Morte da Paz”  que está no Museu da Cidade. Mas quem disse que algo assim, ser vítima de um regime de exceção o amedrontou, o arrefeceu em ânimo? Pelo contrário, em cada Carnaval, uma nova fantasia.

Apaixonado e engajado no reino de Momo, além de compor marchinhas e versos sobre o tema, ainda foi o carnavalesco, digamos que oficial, do também costureiro Di Paula, nos bailes do Clube Fantoches da Euterpe e nos da Oxum, para quem e por muitos anos confeccionou os adereços e as fantasias com as quais o amigo era sempre premiado ou se destacava em cima dos Trios Elétricos.  

A cultura dos Maracatus que se eterniza nas criações do carnavalesco Romero.

Ele próprio, o Romero Luiz, marcou época. Não se pode falar em Praça Castro Alves, nos seus dias de glória, sem lembrar das diabruras e das piruetas produzidas pelas personagens caricatas do Romero. Todas irreverentes, mas temáticas, evocavam críticas ao Governo. Uma delas,  “O Plano Cruzado tem que dar Certo” levou Romero à figurar nas páginas de uma revista alemã ilustrando um texto do intelectual Roberto Damatta “Der kontrast  tanzt”. E sobre a decoração momesca,  o Romero durante onze anos enfeitou o Centro Espanhol até acabar,  numa etapa maior, decorando a própria capital para onde levou aos postes e aos painéis públicos a imagem da espetacular Bombshell Carmem Miranda acrescida da vedete cachoeirana,  Audrey Pedra Azul dos Tabaris.

Sorridente e obstinado, Romero é um dândi neste mundo insólito.

São tantas as coisas para se falar desta rica existência, que talvez nos faltem o espaço e as palavras para tal. Mas o importante é sabê-lo bem,  convalescendo de uma ruptura nos tendões e por vontade própria, um pouco afastado da cena e da noite soteropolitana. Mas, que se frise o fato, voltado para o seu cavalete,  executando a pintura com a disposição de sempre e como não bota freio na imaginação, na condição de  figurinista, já está com a fantasia “Ode ao Maracatu”  pronta e deslumbrante, prestes à ser usada no próximo Concurso de Fantasia Gay da Praça Municipal no Carnaval de 2009.

As personagens caricatas do Romero, aquelas que alegravam a Castro Alves.

Contato com o Romero Luiz:  romerobarros25@hotmail.com  e Romero Barros25 no Orkut.  

No palco, a presença do ator e diretor Romero Luiz.