O Esperança previne caminhoneiros

Por Marccelus Bragg

Ao longo da BR 324 e em postos de gasolina das principais rodovias de acesso à Salvador um público específico tem sido alvo de campanhas de prevenção as DSTs/AIDS, os caminhoneiros. A estratégia é simples. Antes de entrar em campo e pegar a estrada, os voluntários do Projeto Esperança, psicólogos, assistentes sociais, multiplicadores, estabelecem um primeiro contato com os donos e gerentes nos locais de venda de combustível e restaurantes em pontos estratégicos parada obrigatória dos profissionais do volante.

Geralmente no entardecer ou no horário do descanso pós almoço, quando os caminhoneiros estão em grupo e confraternizando-se entre si, jogando baralho, conversando ou no ócio de um bar, chega o pessoal do Projeto Esperança e se inicia aí uma abordagem simpática e super didática. Aqueles homens são convidados a fazer um círculo onde rola os papos comuns relacionados com a vivência dos mesmos nas estradas e há uma troca, a informação sobre a prevenção das DSTs/AIDS, a distribuição de preservativos, e o alerta contra a prostituição infantil. Geralmente todas as histórias contadas dizem respeito à terceiros, os proprios caminhoneiros sempre ouvem falar, ou conhecem alguém de caminhão que está doente, ou que transa com “bonecas ou prostitutas” ou com “meninas de menor” que se oferecem nas pistas. Verdades, exagêros ou lendas do alfalto são relatadas sem pudor. E vem daí justamente o manacial e a munição que o Projeto Esperança necessita para se aprimorar e se fortalecer neste intuito de salvar vidas. É preciso conhecer o público alvo e lhe falar na mesma lingua. Embora não nos fosse apresentada uma uma estatística exata, estima-se que a média de caminhoneiros atendidos pelo Esperança ultrapassa a casa dos 800 nos últimos três anos, e a média de idade destes profissionais se situa entre os 25 e 55 anos. Na sua maioria são viajantes do interior do estado, embora o número de sulistas, à exemplo dos extrovertidos gaúchos, seja por demais significativo.

Na verdade o Projeto Esperança Apoio e Prevenção as DST/HIV/AIDS é uma ONG fundada em 2003 e que atualmente conta com uma média de 15 membros, entre fixos e voluntários. A sede é numa sala da Igrejinha de São Miguel no Pelourinho em Salvador, onde também funciona a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese. Segundo Andrezza Belushi, transexual e uma das coordenadoras do Projeto Esperança que “ nós fazemos também, além deste trabalho com a população de caminhoneiros, o acompanhamento domiciliar e encaminhamento para diversas especialidades medicas dos portadores do HIV e também dos doentes. Oficinas de sexo seguro, oficinas de auto estima e distribuimos preservativos. Sem falar que nós somos convidados à fazer palestras em escolas, a participar de Encontros Nacionais, e a dar apoio jurídico a quem necessita.Inclusive nos dispomos a promover cursos profissionalizantes para que um portador do HIV tenha como ganhar o próprio sustento. E se a familia não dispõe de recursos, algumas cestas básicas são providenciadas”.

Andrezza é uma antiga militante dos movimentos sociais. Nos anos 80 integrou as fileiras do Grupo Gay da Bahia, depois do Gapa – Grupo de Apoio e Prevenção a AIDS, em anos seguintes a Caasah – Casa de Apoio aos Portadores do HIV/AIDS, mais tarde ajudou a criar a ATRAS – Associação dos Travestis da Bahia e agora se doa ao Projeto Esperança onde faz a ponte entre as Transgêneros com a conscientização, amor próprio e prevenção à AIDS. Sendo presença constante também nas ações educativas junto aos caminhoneiros.

Projeto Esperança para continuar se mantendo necessita da ajuda e da colaboração de todos. A ONG aceita roupas usadas, eletrodomésticos e outros objetos que possam ser vendidos em um bazar com renda destinada à compra de remédios e de cestas básicas. Quem quiser dar uma força ao Projeto é só entrar em contato pelo tel. 71 3321 9772 / Ladeira de São Miguel, 35 Pelourinho CEP 40026 030 E-mail: projettoesperanca@yahoo.com.br.