por Rogério Mesquita
A homossexualidade esta presente desde as origens da humanidade. Foi diversamente interpretada, admitida, explicada , sendo que nenhuma sociedade a ignorou. O termo homossexualidade foi criado pelo médico húngaro Benkert, no ano de 1869, e é formado pelas raízes grega “homo” que significa “semelhante” e pela raiz latina “sexus” significando “sexualidade”. Assim, o significado é “sexualidade semelhante”, ou seja, a sexualidade exercida com uma pessoa de mesmo sexo.
No período da Grécia antiga, o escritor Platão foi um dos que abordou o assunto. Neste período, segundo Costa (1992), as atitudes sexuais eram, sobretudo referidas aos amores masculinos e tinham como modelo às relações pederásticas: o adulto (professor) mantinha relações com os adolescentes (aluno) com o intuito de passar seu ssaber ao seu aluno. Entre os séculos V e IV a.C. a bissexualidade era tida como normal no mundo grego.
Na Idade Média, a homossexualidade era associada com heresia. Porém, certas leituras nos fazem perceber que ela não surpreendia. Em Montailho , entre 1294 e 1324, em uma aldeia, a homossexualidade não era algo extraordinário no ambiente urbano, clerical e relativamente elitista. Sua condenação era pelo fato de ser um prazer não útil – a procriação, nesta época , a igreja passou a condenar os prazeres sexuais não diretamente ligados à reprodução, e conseqüentemente, a perpetuação da espécie. A atividade sexual como prazer era severamente restringida mesmo dentro do matrimônio, sendo a virgindade um estado mais abençoado do que o casamento.
Até o século XIX, as autoridades inglesas executavam em público pessoas apontadas como homossexuais, ou seja, até esta data a homossexualidade era tida como crime.
Na literatura, o tema sempre foi inspiração. O relacionamento dos poetas Artur Rimbaund e Paul Varlaine resultou em belíssimas obras falando do corpo masculino e do amor homossexual.
Segundo Hopcke (1993) em 1973 a Americana Psychiatric Association (APA), ao fim de um longo e muito contestado debate interno, retirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais. Essa decisão foi em decorrência direta do movimento de liberação homossexual que começou a partir do final da década de 60 e início de 70.
O referido movimento de liberação desfraldou suas bandeiras, buscando mudar a conceitualização, tanto social, como individual, das relações homossexuais. A emergência da sexualidade foi assinada pela popularização da autodenominação gay, que sugere colorido, abertura e legitimidade. O termo também trouxe uma referência cada vez mais difundida à sexualidade como uma propriedade ou qualidade individual.
O movimento político de liberação homossexual não se deu da noite para o dia. Foi marcado pelo motim de Stonewall (um bar onde os travestis se encontravam), em 1969, um confronto entre a polícia e os freqüentadores do bar, no bairro de Greenwich Vilage, na cidade de New York. A partir deste motim foi institucionalizado o dia de 28 de junho como o “Dia do Orgulho Gay”, data esta que se refere ao fim do motim.
Para celebrar este dia se realizou uma passeata em New York no ano seguinte, com a intenção de exaltar o orgulho de ser gay. logo se espalhou pelo Estados Unidos e pelo mundo.
Através dos tempos a comunidade homossexual se organizou, obteve conquistas e, com isso, teve ou tem muitos sígnos para se identificar. Os mesmos sofreram modificações na sua forma e ou no seu significado. São alguns deles:
Triangulo Rosa: este é o símbolo mais antigo (desta era) datado do período anterior à Segunda Guerra Mundial. Na Alemanha nazista, os prisioneiros homossexuais eram obrigados a usar com um triangulo rosa pregado em suas roupas, nos campos de concentração. Nos anos 70, o triângulo passou a representa a luta pelos direitos gays com lema: “nunca esqueça, nunca de novo”. Tornou-se, de um símbolo de opressão e estigmação, para então um símbolo de luta.
Triangulo negro: semelhante ao triangulo rosa, era usado por mulheres que não se enquadravam na concepção de feminilidade do regime nazista. Eram lésbicas, prostitutas, mulheres sem filhos. Com o feminismo, o triângulo também se tornou um símbolo do orgulho lésbico.
Lambda: equivalente a letra “L” em grego, foi escolhido pela New York Gay Activist Aliance no ano de 1970 como o símbolo do movimento gay. .A razão desta escolha é que em batalhas na antiguidade uma bandeira de guerra com o lambda era desfraldada por um pelotão de guerreiros mais velhos que eram acompanhados pelos seus jovens amantes, demonstrando a sua impetuosidade e o desejo de lutar ate a morte.
Labrys: o labrys é um desenho de um machado com duas faces sendo um símbolo da forca e auto-suficiência lésbica e feminista.
Símbolos de gênero: baseiam – se nos signos astrológicos de Marte (masculino) e Vênus (feminino). Símbolos masculinos e femininos duplicados têm sido usados freqüentemente como representação de gays e lésbicas desde o inicio da década de 70.
Mercúrio: o signo astrológico de Mercúrio é um símbolo tradicional dos travestis. O símbolo denota o masculino e o feminino com o anel representando o individual e o equilíbrio dois comportamentos.
A bandeira em forma de Arco-íris: No ano de 1978 , foi criada pelo artista Gilbert Baker a bandeira representando o Arco-íris, juntou 30 voluntários que costuraram e tingiram duas faixas gigantescas para a parada gay de São Francisco. Ele criou a bandeira com oito cores e a cada uma delas ele atribuiu um significado: Pink (sexualidade), vermelho (vida), laranja (poder), amarelo (sol), verde (natureza), azul (arte), índigo (harmonia) e violeta (espírito). Problemas de produção inviabilizavam o Pink e o índigo então essas duas cores foram retiradas do layout final. Durante a parada do ano de 1979, o comitê organizador dividiu a bandeira por cores e a cada três cores, ou faixas, fazendo desfilarem de cada lado da rua, com o objetivo de dar mais visibilidade ao movimento. Das oito cores restaram apenas seis (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta) que hoje são reconhecidas oficialmente pelo International Congress of flag Makers.
Como vimos, a bandeira em forma de arco-íris é somente um dos signos para designar o movimento gay no mundo, mas o único que tem um reconhecimento mundial. O único que, em qualquer lugar onde você encontrar, vai saber que tem algo a ver com o movimento homossexual. Mas por que esta bandeira, que não foi o primeiro signo e com somente vinte e seis anos depois da sua criação, é o mais difundido? Por que ela tem tanta representatividade?
Podemos pensar em cada uma das cores e seus significados e os que o artista quis representar, podemos relacionar o colorido que ela tem com a alegria que usualmente esta ligada à comunidade gay, sendo assim poder ser uma grande brincadeira que o artista quis provocar na sociedade.
Mas proponho em se fazer uma reflexão sobre o Arco-íris, em que a natureza nos apresenta em momentos especiais.
Segundo o dicionário Aurélio: arco-íris é um fenômeno resultante da dispersão da luz solar em gotículas de água suspensa no ar, que mostra como um conjunto de arcos coloridos.São sete as cores do arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo, violeta.
Segundo o dicionário de Símbolos de Chevalier: um dos significados para o arco-íris é uma ponte de que se serviam deuses e heróis, entro o Outro-mundo e o nosso. Essa função quase universal é atestada tanto entre pigmeus quanto na Polinésia, na Melanésia e no Japão.
Na Grécia antiga, o arco-íris é utilizado por Íris a mensageira dos deuses que utilizava.Esta ponte quando a deusa Íris queria entrar em contato com os mortais. Normalmente trazendo alguma mensagem de algum deus aos mortais.
Então o Arco-íris era uma ponte, uma ligação entre o céu e a terra, entre o reino dos deuses e os mortais.
Se o arco-íris é a ligação, a ponte, entre o céu e a terra, entre deuses e mortais, o que poderemos pensar sobre céu? O que seria o céu em nossa psique? O céu é algo não palpável que não tocamos, e também a morada dos deuses, ou seja, a morada da nossa alma de nossos deuses, de quem somos de quem queremos ser ou mesmo de quem imaginamos ser.
E a terra? O que representaria a terra na nossa psique? A terra, ao contrário do céu, é algo palpável, concreto, é o que nos da sustentação, ou seja, a base que dá sustentação à nossa personalidade. E o que e temos de concreto na nossa personalidade? O que é oposto ao nosso céu? Penso que temos o nosso corpo esta é o que dá suporte ao mundo das idéias. Corpo esse que precisa ser alimentado, por isso, a existência dos instintos. Os instintos são responsáveis pela nossa sobrevivência, são eles que nos fazem reagir ao frio, calor, fome, sede, tesão e etc…
Então o arco-íris esta fazendo a ponte entre o mundo das idéias e dos instintos. Voltando a bandeira em forma de arco-íris e para a comunidade gay. Será que ela não esta fazendo este papel de ligação, a ponte, entre o que foi aprendido na sociedade (família, escola etc…) com aquilo que ele sente em seu corpo? Será que uma pessoa que esta se descobrindo gay não se tranqüiliza ao ver a bandeira e saber que ali esta algo com que possa se identificar?
Podemos ver a bandeira em vários locais hoje em dia, bares, restaurantes, boates, etc. .. Sempre como um sinal de que aquele lugar é um ponto de encontro de homossexuais. Será que a bandeira não esta servindo como uma ponte entre a pessoa e o local onde ele pode ser o que ele é? Será que ele, depois de ele conhecer mais iguais e poder integrar sua personalidade?
Será que um adolescente descobrindo seu corpo, seu tesão, e se dando conta que não é aquilo que ele imaginava, esta bandeira não estará ajudando a este adolescente a se libertar de seu próprio preconceito, podendo viver mais livremente sua sexualidade? Então, será que este símbolo não está realmente servindo como ponte de integração da personalidade de um homossexual nos dias de hoje? Lembrando também a sabedoria popular que diz que quando o Arco-íris encontra o chão existe um pote de ouro, então quando esta pessoa possa integrar seu céu com sua terra possa assim encontrar a sua riqueza interior.
Penso que aqui estão somente algumas reflexões a respeito do tema, que é muito rico e complexo. Em nenhum momento, pensei em esgotá-lo e sim trazer as minhas contribuição e reflexões com a esperança de que tenha tocado de alguma forma em qualquer pessoa.
Rogério Mesquita
Psicólogo Clínico
romesqui@terra.com.br
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS COSTA, Jurandir. A inocência e o vicio: estudos sobre o homoerotismo . 2ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumara, 1992. 195p. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos . Rio de janeiro: José Olimpo, 1997. 996 p. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Dicionário Aurélio . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, [s.d]. 790p. HOPCKE, Robert. Jung, jungianos e a homossexualidade . 2ed. São Paulo: Siciliana, 1993. 213p. Símbolos GLS . Disponível em: http://www.glsplanet.com . Acessado em 28 de maio de 2004. |
PS: Agradecemos a Colaboração do Dr. Rogério Mesquita que nos enviou este brilhante texto