O canto lírico da artista Rita Braz

Um toque de requinte musical é ouvir Rita Braz. Como uma “Purificação” santamarense a voz de Rita nos arrebata. Amante do cantar ela fala ao Marccelus Portal e dá um recado: “A boa música diz muito ao coração” . Eu tento passar no meu canto a divindade do som e o êxtase do ouvir. O lírico é um bom caminho.

A energia do Subaé purifica o seu canto?  

É tudo. O meu rio querido e Santo Amaro da Purificação é o meu berço musical. Cresci ouvindo as novelas do rádio tipo “A ponte dos suspiros” e em ” O direito de nascer” o personagem do Albertinho Limonta era o meu preferido. E brinquei muito. Algo muito especial era jogar “…a palavra é?” com meus amiguinhos. A minha mãe cantava as canções da Ângela Maria…e assim se passavam meus dias de menina. Na adolescência imitar Michael Jackson, Donna Summer, Diana Ross e Tina Charles era uma coisa divertida que eu fazia.

E a modelo Rita Braz?  

Pois é, fiz fotos e desfilei. Hoje dou aulas também de modelo e manequim. Trabalho muito a postura e dou ênfase ao que ensino passando o conceitual de que existem múltiplas belezas. Os afro-brasileiros [as] da Bahia são particularmente uma população privilegiada. Tem pessoas lindas nesta terra.


E o sacro na vida de Rita é persistência ou prazer?

Ambos. Levada por minha prima Sêmirames conheci a sublime face de um coral. Aquelas vozes de dedicação altiva ao poderoso me cativaram . Me senti chamada à participar. Éramos todos bem entusiasmados. Estávamos no começo dos anos 80, fiz um teste, passei e o maestro Keller Rego era quem regia o Coral do São Bento. Iniciávamos naquela época a introdução dos atabaques como alternativa cultural africana nos corais. Era o aprendizado do respeito à outras crenças e à outros costumes. Eu sempre me senti feliz cantando ao lado de outras vozes. Sempre tive também uma facilidade no ouvir. E lá se vão 21 anos de feliz convivência.

E o tio Durval Santa Bárbara, influenciou? 

Meu tio era um homem de expressão. Grande estrela do canto lírico nesta terra. Por muitas vezes subiu ao palco do Teatro Castro Alves. Baixinho, magrinho mas bastante vaidoso e elegante tinha nas novenas da Conceição da Praia o seu ápice vocal. Ali se esmerava nos cantos e jaculatórias à mãe dos homens. Que saudade . A lembrança, o exemplo e o talento deste meu tio são memórias que me custa esquecer.

Quando vamos ter o “Canto do meu canto”?

Calma que o CD está pra sair. É um pouco de tudo. Gosto que as pessoas avaliem e se sintam à vontade para apreciar o potencial do meu canto. Tenho um amigo-irmão o Maestro Dilton Cezar que tem me ajudado bastante na confecção dos arranjos e na escolha do repertório. “Penas do Tié , Yorubá – Canto para Yemanjá e Canción Del Grumete” são algumas das faixas que eu posso adiantar pra vocês. Só digo uma coisa. O “Canto do meu canto” tem alma, é feito com amor e sem nenhum preconceito musical.

A técnica do seu canto triunfa?

Sou uma cantora eclética. O timbre da minha voz me possibilita fazer várias transformações sonoras dentro de um canto. Tenho técnica, mas tenho emoção também. Me identifico demais com o canto lírico, mas abomino o rótulo de “cantora lírica” não quero limitações ao meu reconhecimento como artista. Cantar é também representar. Se você solta a voz e não sente ou ama o que canta então você está vazio. O correspondente a isto é o retorno da platéia. Você vê no rosto das pessoas a empatia ao teu canto.

Como foi cantar as “Bachianas n. 5″ de Villas Lobo em cima de um trio?

Emocionante. Engana-se quem pensa que música clássica não combina com carnaval. Há momento pra tudo na folia. Quem já não ouviu em pleno carnaval da Bahia arranjos e apresentações fantásticas do Hino ao Senhor do Bonfim? Até mesmo música country ou sertaneja o pessoal toca. Porque não algo clássico e refinado? Agora em 2004 fiz uma participação especial no Bloco Cortejo Afro e na homenagem a Glauber Rocha pelo seu Cinema Novo cantei As Bachianas. Esta não foi a primeira vez. Em 2002 com Ricardo Vinni cantei no trio afro-técno parte da “Flauta Mágica” em ritmo dance e sob os acordes dos timbais.

Outras vozes e outros cantos. Quem você escuta?

Jessy Norman é uma cantora fantástica. Tenho uma admiração pelo trabalho de Inaicira, uma cantora lírica paulista que mescla a sonoridade do candomblé ao seu repertório sacro. A Virgínia Rodrigues é muito talentosa. Tem uma imagem impactante e um vozeirão magestoso.

Explica pra gente o Projeto Dandarayé Eré.

É um trabalho à que venho me dedicando. É uma iniciativa consagradora porque incentivo e estimulo ainda mais a entronização social da beleza negra infantil. A idéia é passar elementos de dança, folclore, ritmos e expressão corporal seguida de dicas de correta postura e aulas de manequim e modelo. Trabalhar a auto estima e viabilizar alternativas futuras de desenvolvimento de crianças e adolescentes é para mim muito importante.

Quem quiser conhecer o nosso Projeto Dandariyé Eré ou nos contratar para apresentações musicais em aberturas de eventos, casamentos, formaturas, etc… o nosso telefone é (71) 9126 1216 e o E-mail: ritabraz2000@yahoo.com.br

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