Crítica: No livro “Ainda Lembro” de Jean Wyllys é exposto o gay sério, a normalidade homo.
Por Valdeck Almeida de Jesus
O professor universitário, escritor e poeta Jean Wyllys, vencedor da última edição do Big Brother Brasil, com todo o talento que Deus lhe deu, conseguiu prolongar seus 15 minutos de fama. Ao contrário de outros ex BBBs, candidatos certos a expor seus corpos em revistas eróticas, o professor expôs seus dotes em programas como o “Mais Você”, de Ana Maria Braga, Jô Onze e Meia, Fantástico, Sem Censura (Lêda Nagle, TVE), entre outros. Depois dessa turnê, ou durante a mesma, Jean lança agora um livro pela editora Globo. Em “Ainda Lembro”, ele deseja ter a mesma sorte que Paulo Coelho, autor de literatura campeã de vendas no mundo inteiro, que o levou a vestir o fardão da Academia Brasileira de Letras. Não sei se aquela roupa demodé caberia numa pessoa tão doce e tão pura de alma como o Jean Wyllys, mas se ele desejar, de verdade, vai sentar numa das cadeiras da ABL e se tornar um imortal, apesar de já sê-lo pelo talento e pelo carisma.

A imprensa e o marketing são ferramentas muito perigosas, quando estão em mãos erradas. Com o autocontrole, inaugurado com os bons ventos pós ditadura militar, aqui e ali despontam as pessoas de bem, em todos os órgãos de imprensa do país. Isso faz com que se dê destaque ao talento, ao dom inato, ao esforço e ao bom caráter, ao invés de se enaltecer as práticas de casamentos arranjados, a busca enlouquecida e insana por fama a qualquer preço. O fato de a Globo estar aproveitando uma onda de apoio popular e de simpatia que a sociedade está tendo para com os gays, em nada desmerece a publicação do livro de Jean Wyllys, tampouco justifica que se coloque a Globo num pareddão, nem se ponha sua linha de atuação em xeque. Pelo contrário, demonstra que ela está afinada com o mais moderno, com a evolução, que dentro dos seus quadros de funcionários há muitos gays e que esses gays têm liberdade para colocarem pra fora todo o seu talento e potencial. Jean Wyllys é apenas mais um gay, mas é o exemplo vivo de que ser gay não é somente falar palavrão e baixaria, como querem ouvir alguns meios de comunicação, que financiam seus colaboradores na busca por podridão e baixo nível. Aliás, podridão e baixo nível é peculiar a qualquer ser humano, seja gay ou seja hétero, seja pobre ou seja rico, leitor ou jornalista. Que bom que os órgãos repressores não mais existem, e que agora o controle é exercido por entidades sérias e que prezam pelo bom caráter e pelo bem comum: a democracia e o respeito aos direitos humanos.

Jean foca a homossexualidade em sua vida apenas como mais um componente de sua personalidade. Ser gay é também ser cidadão, é ser irmão, filho, pai, colega, amigo, trabalhador, jornalista e escritor. O livro não deveria, como bem fez o Jean, dar destaque maior ao sexo ou à homossexualidade. Não chocou nem ao público hétero nem ao público gay, pois não é de sua índole ser notado pelo bombástico ou pelo explosivo. Ele demonstrou todo o equilíbrio e brio que lhe é peculiar. Jean passa a imagem de uma pessoa (humana) que deve ter passado por experiências que todo ser humano passa, mas que está em busca de um ponto de equilíbrio em sua alma. Esse é o aspecto mais relevante do seu cotidiano: a trajetória incansável pela perfeição, pela evolução. E ele passa isso para seus leitores: gays, crianças, héteros, senhores e senhoras de idade, jovens, negros, mulatos, brancos. Jean escreve para um público dos oito aos oitenta. Não escreveria, jamais, um conto erótico ou homoerótico, somente para satisfazer a sanha consumista e sedenta por vendagem, como o fazem alguns meios de comunicação.

Jean Wyllys está no caminho certo. Sua fama repentina não veio por acaso. Ele construiu o caminho a duras penas (vendendo amendoim torrado ou passando fome), e o pódio que está ocupando agora não é nada mais do que conseqüência de muito esforço.

Nosso país é carente de ídolos, não ídolos como os que estão nos altos escalões, ludibriando as urnas eletrônicas e transformando o discurso inflamado em discurso vazio. O Brasil está carente de gente, de gente comum que seja alçada às principais manchetes, para dizer, em alto e bom tom, que ainda vale a pena ser honesto, que ainda lembra dos dias de miséria, mas que agora AINDA LEMBRA que é muito bom ser do bem.

Ainda lembro de minha mãe, nesta data de hoje, que faz aniversário de cinco anos que partiu para a eternidade, me ensinando que o bom da vida é viver, é ser feliz, mas às custas do próprio esforço, sem enganar, sem roubar a consciência de ninguém. Ainda Lembro e irei lembrar, como ainda lembro do Jean simples, humilde, caminhando pelas ruas de Salvador, e Ainda Lembro, também, do mesmo Jean Wyllys, já alçado ao topo da fama, mas simples e humilde como sempre foi… Prova de que o caráter dele é firme, é coerente. Espelhem-se numa pessoa como essa senhores e senhoras, e vamos mudar esse país para melhor!