Um Olhar da África com o Dr. Laudari
Por Marccelus Bragg
Existem preciosidades envolvidas por sentimentos tão sinceros que terminam por nos contagiar. E assim, meio que tomado por vibrações positivas diante da beleza e da qualidade dos objetos, é que o nosso primeiro olhar bateu em cima de uma coleção singela, soberana em sua variedade e respeitável no seu montante em acervo. Antes mesmo de falar do que se trata, é de muita serventia ter em mente que quem não bota paixão no que vê, não vê é nada. E sob o domínio de um olhar benfazejo, lhes convido a chegar-se à África neste passeio pela coleção das obras de arte africana do Dr. Carlos Laudari.
O Prêmio Nobel da Paz de 1984, o Arcebispo Sul-Africano Desmond Tutu , foi sábio ao afirmar “Não somos amados porque somos bons, mas somos bons porque somos amados”, e só conhecendo mais deste brilhante médico obstetra e ginecologista – que se confessa a mais emocionada das criaturas diante da ajuda ao nascer , ou na popular compreensão , ser um “médico parteiro” – que se sente o quão bom é ser um agente da vida. Segundo suas próprias palavras “fazer um parto, trazer ao mundo uma nova pessoa, tratar de todo o ritual que antecedo o nascimento é extremamente gratificante”.
Sendo um abnegado da medicina séria, aquela que eleva o ser humano ao primeiro plano e que compartilha consigo a ética e o respeito à sua dignidade, o Dr. Carlos Laudari tem um curriculum imbatível a seu favor. Filho caçula de uma família de descendentes de italianos do interior paulista, descobriu muito cedo a sua vocação de médico. E seguiu carreira até que , agraciado com uma bolsa de estudos para a Columbia University nos Estados Unidos , desembarcou em Nova York , de onde anos mais tarde surgiria a inesperada oportunidade que o uniria de vez à cultura africana.
O jovem e irriquieto doutor veio a integrar uma entourage de especialistas que , a serviço das Nações Unidas, seguiu para Angola a fim de substanciar em aportes médicos-sanitários, uma sociedade em guerra e bastante sofrida. E foram nestes anos de África , com as mais diversas passagens do obstétra Laudari por tantos países do continente , que esta simbiose com a cultura milenar se fez mais “unha e carne”. Mas um aparte é importante ser feito. Entre 1968 e 1971, este colecionador viveu em Salvador , e esses foram tempos pródigos em reais , inesquecíveis e emocionantes lembranças. Uma delas , a de ter sido o único garoto branco em uma das salas do Colégio Estadual Edgard Santos, na Fazenda Garcia . Outra, é que a curiosidade sobre a África lhe foi despertada desde a infância através das histórias e falanças que uma senhora negra moçambicana, mãe de uma tia pianista e considerada como sua avó. Ela lhe segredava uma epopéia de ébano que povoava àquela imaginação de criança.
A Coleção Em Angola, não foi difícil enturmar-se a artistas e a ter em mãos os catálogos e convites para exposições, saraus e manifestações culturais das mais diversas naturezas. Uma característica é típica deste profissional, a sua nobreza de espírito e o seu caráter humanista. E sob esta áurea surgiu o desejo de reter consigo um pouco do saber africano. De retribuir com o modesto incentivo da compra ao trabalho de tantos bons artistas e renomados artesões africanos. O critério da escolha e do amealhar de peças para sua coleção foi a sensibilidade pessoal e total despretensão para com o futuro das mesmas que não fosse a tão somente presença em seu cotidiano . Coisa que em sua casa, com uma magnífica vista da Baia de Todos os Santos, a tal arte parece casar-se e fazer acenos ao mar ancestral dos antigos tumbeiros. Quem sabe não está aí a mais linda expressão do lúdico africano do Dr. Laudari?
A seguir , apenas algumas das peças, e são várias e em diversas categorias. Esculturas [máscaras, tótens e objetos ritualísticos e de curiosa existência] e uma mensagem nos deixa clara a posição do Dr. Laudari, ao nosso ver impregnada de modéstia, mas ele faz questão de afirmar “que nada do que possui é de excepcional procedência ou de raridade absoluta. Contudo , são unidades advindas de um gosto pessoal e de um tirocínio impregnado pela simpatia à Africa”. E que, se algum elemento deste acervo particular puder se reverter em visibilidade, maior difusão da arte Africana e que a popularize ainda mais, ele está disposto a empréstimos , desde que a causa seja nobre.
Contato com o Dr. Carlos Laudari através do e-mail: calaudari@yahoo.com