O seu falar é inconfundível. Até por telefone a gente morre de vontade de conhecer o dono daquela voz firme e de palavras bem pronunciadas. Se espante não, que até mesmo o homem Antonio Carlos, geminiano, paulista e aos 51 anos é uma divindade. Não pode? Pelo contrário. Em se tratando desse espécime remanescente da geração Flower Power o impossível parece não existir. O cidadão é movido à sonhos. Veja isto: ele salvou uma velha meio grogue que ficou trepada num coqueiro e não soube descer – e pumba! Ficou famoso. Virou herói na velha estrada da Ilhota: se tornou MEU DEUS ou MY GOD como carinhosamente uma celebridade gringa o apelidou(Alice Cooper).

Foram tantos os agitos em sua vida que começar a contar alguns dá trabalho. Pra você não se ruborizar com bobagem, a grande parada é ver o God como previsível só de mentirinha. Porque na realidade ele é mais um daqueles espíritos que não se acorrenta à regras, normas e atitudes convencionais. Ele mesmo se define! Adora ser o Mestre de Cerimônias sem cerimônia e brinca que “ não pode ver um microfone”. Já foi, no boom dos anos 80 o secretário de Turismo do município de Vera Cruz na gestão do Prefeito Aginoel. E tem a proteção divina – é de oxaguiãn com oxumaré no juntó. Já deu pra entender que o God é o “cara”. E o que faz parte de tudo isto? O cenário celestial do nosso GOD, que é uma ex-fazenda abandonada agora transformada em Pousada do Arco Íris no Paraíso de Mar Grande e estabelecimento solidário e friendly aos GLS. Animais exóticos, reis e rainhas, comida especialíssima, teatro, música nativa e mais…festas e festas, tudo existe…. embarquem que o God é sempre surpresas é uma nau meio insensata! Mas de deliciosa viagem.

Fazer televisão nos anos sessenta foi uma boa expeiência?
Desta fase da minha vida me identifico especialmente com o papel que fiz de irmão da Leila Diniz na novela da Ivani Ribeiro “ Dez Vidas” na extinta TV Excelsior em 1969. Contracenei com Carlos Zara e Eva Vilma. A Leila Diniz, que todos nós conhecemos por sua postura libertária frente aos direitos e conquistas feministas era como pessoa, uma mulher fascinante. Mas eu não me sentia muito livre num estúdio. Eu tinha uma vontade interior de fazer algo voltado diretamente para um punhado de pessoas. Eu diria uma destas tribos urbanas. Sempre fui muito chegado a coisas que são feitas ao ar livre, em áreas abertas, com bastante movimento. Eu me envolvi nesta fase, ainda bastante jovem, na produção de shows de rock e fizemos super apresentações no Parque do Ibirapuera, os Festivais das Águas Claras em Iacanga o Fetival de Rock da praia da Penha, Festival de Rock da Ilha do Mel, tendo feito também programas de Rock na Rádio America de virar a Transamerica,e na Rádio Excelsior antes de virar a Globo FM, sempre das 00:00hs às 00:02hs dá madrugada, sempre um animal de hábitos noturnos.


O momento político era favorável?
Favorável não era, agora me deixar sufocar pela alienação reinante ? Isto não era coisa pra mim. Eu não aceitava a nova era que estava por vir de materialismo e de individualismo dos anos oitenta. Então descobri na filosofia hippie o sentimento de contestação que tanto me envolvia. Era a minha resposta a babaquice reinante sendo eu mesmo e ousando em tudo. Embarquei de vez. Nesta fase alternei idas e vindas a Bahia. Não sei a de outros, mas a grande recordação é que estive na casa do sol com Janis Joplin em Arembepe. E fui aqui em Mar Grande, um dos incentivadores do primeiro núcleo hippie de Itaparica. Me apaixonei pela Ilha, e quando surgiu, anos depois, a oportunidade de me mudar para esta fazenda antiga e arruinada onde estamos hoje, topei na hora e tudo mudou. A restaurei e nasceu a Pousada do Arco Íris.


Mudanças radicais? Valeu à pena?
Só valeu. Joguei pro alto o curso de direito e me envolvi no ramo das viagens e hotéis. Fiz uma faculdade de Turismo no Morumbi e parti pra Universidade de Cornell nos Estados Unidos e Palma de Maiorca na Espanha com vistas a complementar a minha formação em administração hoteleira. Foi um ciclo interessante de viagens internacionais que me deram a oportunidade de ampliar a minha visão pessoal dos núcleos urbanos. Aqueles mais comentados e em ebulição à época. O Marrocos foi a minha mais lúdica investida. Todo o colorido da paisagem e o cultural das pessoas foram de um encantamento total na minha vida. E Ibiza não me dei conta de que era mortal, pensei estar entre deuses visto tanta gente bonita por metro quadrado. Em Londres, na Charing Cross Station, a Haven – 5º- subsolo, num fosso e numa única noite assisti a 15 boys Georges em performances inacreditáveis. Eu não me cansava, pulava de um país para outro sempre em busca do novo, do inusitado, das reinações fantasiosas, de tudo que era pulsante e vivo.

Boas recordações da tua fase de trabalho em produção de shows e espetáculos?
Muitas e excelentes recordações. Na contra-mão da cultura machista opressora explorávamos então aspectos da androginia. A sociedade conservadora era o nosso alvo. Produzi o fenomenal Dzi Croquettes e achava em particular, excelente o talento do fundador do grupo o coreógrafo americano Lennie Dale. Depois quando se findou este grupo investi no Dzi Croquettas – um elenco agora só de mulheres e delas surgiria no futuro as Frenéticas que duraria até o ano de 1984, conhecidas de todos vocês. Até hoje sou amigo de todas mas em especial da Leiloca “ gordinha e mística” e Lidoka que são amabilíssimas e de uma alegria insana formidável. Alice Cooper, Genesis, Yes, Rod Stuart, Billy Bond e la Pesada de Rock and Roll, Manah e Alberta Hunter foram outros nomes a que me liguei nesta etapa de produções e não esqueço um detalhe, trouxe pra Bahia, para se apresentar no TCA os Mutantes com Rita Lee no seu último show com a banda e os Novos Baianos que acabara de nascer, para a sua primeira apresentação na Bahia no verão de 1970. Tendo produzido ainda shows com Cazuza, Lulu Santos, Sá Rodrix e Guarabira, Made in Brasil, o Terço, 14 Bis, Eduardo Dusek, Raul Seixas, Tim Maia, Ballet Stagium, entre outras tantas personalidades com as quais teve o prazer de trabalhar.


Bibop e Hulabaloo!!! – Tudo no mesmo embalo?
Por partes, talvez sim. Fazíamos acontecer e de cara cruzou meu caminho a Bibop – muito rock – uma boite só de rock e surgiu depois, no mesmo local a Hulabaloo!!! Creio que uma das mais antigas casas gays e no show de estréia, nada menos que os Dzi Croquettes no espetáculo “Simplesmentemente nós queremos é baldeação”. E o mais engraçado, se comparado com a liberdade de hoje, é que algumas vezes havia batida policial e todos, recolhidos a delegacia, e liberados em seguida.
Foi em Búzios que vc conheceu o Mick Jagger?
Búzios significava o lugar comum, do socialite e da nata underground dos anos setenta. Abri uma pousada por lá. Era uma extravagância moral e deveras in viver ali. Lá fundei a Pousada do Arco Iris, a setima pousada a ser aberta na cidade. Além da pousada, a “Dos Búzios” uma boutique que recebia as ultimas criações de Ibiza. E o primeiro bar noturno de Búzios o Rainbow Pub. Lá recebia com frequência vários figuras como Fafá de Belém, Elba Ramalho, Angela Rorô, Zizi Possi, Mario Gomes, entre outros globais.
Mick Jagger, foi levado ao Rainbow Pub pela mãe da Alexia, a Renata Deschamps, e Noelza Braga Guimarães. Mick estava neste momento contracenando com Norma Benguel o filme “ O Azarado” em que o seu personagem era seqüestrado e transformado em escravo pela sedutora Benguel, que em locação no castelo de Samuca Wainer e Danusa Leão em Itaipava era dominado pelo chicote de sua sequestradora, sendo obrigado a ceder às todos seus desejos.


E finalmente Mar Grande em Itaparica?
Sim, Entre as minhas idas e vindas à Itaparica um lugar sempre me cativou – Mar Grande! A Fazenda que se tornaria a Pousada do Arco Íris estava arruinada e por capricho do destino me chegou às mãos em meio à uma série de coincidências favoráveis. Trabalhei muitos anos para torná-la habitável e digna de receber hóspedes. A decorei com móveis antigos e de herança lhe devolvendo a ambientação senhorial das antigas casas grandes. Esta fazenda deu origem a localidade de Mar Grande e tem tudo a ver com a história da Ilha de Itaparica. Desde 1981 me fiz um cidadão de coração desta comunidade. Tentei interagir no sentido de fazer-me útil e de passar um pouco da minha experiência na área do turismo, não só pela minha formação acadêmica mas também por ter viajado muito e ter sido dono de casas de espetáculos e de pousadas. Então aceitei, em meados dos anos oitenta, o convite do meu amigo Aginoel e fui nomeado Secretário de Turismo. Hoje sou o secretário de relações Interinstitucionais do Movimento em Defesa da Ilha e vice-presidente da Associação Comercial do Município de Vera Cruz.


E para dar um referencial de zelo e dizer muito claramente as pessoas que existe realmente o turismo auto-sustentável sem a necessidade de se destruir o meio ambiente é que fiz da Arco Íris uma mostra destas ações de preservação. Mantive o mangueiral e o coqueiral, a Fonte da Tabatinga de água mineral, e faço o que posso para respeitar o eco sistema deste espaço não meço esforços. Faculto inclusive o acesso à pesquisas e tenho engatilhados projetos culturais bastante interessantes. A fonte da Tabatinga por exemplo, que situa-se em nossa propriedade é alvo de um trabalho de rastreio da sua trilha interpretativa por parte de alunos da FACTUR – Faculdade de Turismo Olga Metig, abrindo espaço para apresentações de diversos grupos culturais a exemplo da Prole de Itaparica, Grupo Alofiã, Grupo de Capoeira Kizomba, Capoeira Afro-Brasil entre tantos outros grupos culturais apoiado pelo projeto de patrimônio cultural da Ilha de Itaparica. Assim como abrimos espaço para festas dos diversos terreiros do culto Afro-Brasileiro, que são a expressão maior da cultura nativa da Ilha de Itaparica.


Como pólo cultural a Pousada Arco Íris tem bons momentos, podemos lembrar de alguns?
Reis e Rainhas passaram por aqui. O rei Carl Gustav e a rainha Silvia da Suécia assim como o Rei do Gabão. Na cozinha, faço pratos exóticos, que terminam sendo bem saborosos. Sou um autodidata. As minhas investidas como gormeut é no campo dos experimentos, além da Cozinha Tipica, Internacional e Grelhados. Frutos do mar é sem dúvida uma alimentação saudável e nós a temos com facilidade, assim como os frutos tropicais, sendo bastante utilizados na nossa cozinha. O expert Cristophe Idone no seu livro “ Brazil a cooks tour”, editado em New York, faz uma menção bastante honrosa ao comer margrandense da Pousada Arco Íris, tendo escolhido nossa Carne do Sol Desfiada para capa de seu referido livro, sendo que temos ainda outras especialidades como o Peixe na Folha de Bananeira e o Filé de Anjo com Batatas a Moda do Chefe. O nosso restaurante Manga Rosa é muito apreciado tantos pelos turistas internacionais como pelos veranistas que frequetam a ilha. Festas chiques, promovidas por hostess da vizinha Salvador nos escolhem como palco pela natureza exuberante desta antiga fazenda e principalmente porque a dotei de espaços vitais para o entretenimento como bares íntimos, piscina e boate. Sem falar em Palcos e chalés em meio a nativa flora. Enfim, todo o clima propício para o divertimento e a privacidade que essa gente de bom gosto precisa. Mas nem de longe abandono a minha prioridade que é valorizar a cultura popular, o folclore e a gente da terra. Acredito mesmo nas potencialidades das pessoas. Abro espaço a grupos de dança, capoeira, samba de roda e maculelês, que tem no território livre da Arco Íris não só o cenário das suas apresentações como também a casa aliada à que progridam e se façam reconhecer como artistas.

É sem dúvida um destino de fé esta Pousada? Movida a arte?
Não sei me desvencilhar da arte. E a minha casa teria que ter, sem a mínima dúvida, o lugar reservado a que se sintam bem meus hóspedes e a comunidade que a cerca. Também a Ruth Escobar, esta grande mulher do teatro brasileiro, cavou comigo, literalmente o chão de onde seria o nosso primeiro anfiteatro que leva o seu nome. Já estiveram conosco, só para se ter uma idéia, pois nem mesmo recordo de todos, o Grupo Tran-Chan da UFBA que veio inaugurar o anfiteatro Ruth Escobar com uma apresentação chamada “ Overdose, Overgose e OverGOD” – a dança de alto nível da Leda Muhana, Bete Grebler e Giovani Luchinni. No palco do espaço cultural Manga Rosa, veio o negro gato Luis Melodia, o vozeirão do Lazzo Matumbi, Tuca Lago, o saxofonista Paulinho Andrade, Caetano Veloso, Grupo Garagem, Moa Ambessa – Reggae, Paulo Moura, Lenny Andrade, o ator Chico Dias, as apresentadoras de TV Kátia Guzzo e Luzia Santana, Aline Menezes, Nana Caymmi, Gereba, O Grupo Avelãs e Avestruz do Márcio Meirelles, o repentista Bule-Bule, Luizinho Assis, Petinha Barreto, Lula Kotler, Paulinho Andrade, Val Macambira, Edil Pacheco, Lia Chaves, Marcia Short, José Daniel, Elba Ramalho, Luis Caldas, Sidney Magal, Armandinho, Morais Moreira, e na abertura do verão passado tivemos um super show – para 430 convidados – com a madrinha da parada gay, a estonteante cantora feirense Simone Sampaio. Intelectuais como o etnólogo e fotógrafo Pierre Verger sempre nos visitou com assiduidade. O ministro de Cultura da França Jack Lang, o pintor Caribé, o grande Bel Borba e a pesquisadora Arlete Soares, Rina Angulo, Antônio Risério, Marcia Ganen, o ministro Jaques Wagner, e por Aninha Franco, a nossa diva da dramaturgia baiana, fui pesquisado pelo meu passado hippie da década de setenta, para o seu trabalho “Vapor Barato” que veio a fazer muito sucesso. E tem mais gente e mais acontecimentos, é que a mente da gente nos prega peças e quando mais precisamos recordar não conseguimos…

Neste verão de 2005, já tivermos no dia 05 de janeiro a apresentação da banda Psicodelia Peba de Caruaru, com seu maracatú eletrônico unindo músicos pernambucanos com músicos da ilha. E nos dias 28 e 29 de janeiro a cantora Mia Berndes e Banda Macumba formada por músicos suecos e itaparicanos, além do cantor pernabucano José Daniel que tem apresentada jóias da MPB todos os fins de semana.


Os GLSBTs fazem parte deste mundo da Arco Íris?
Quem teve um passado como o meu, cercado da nata contestatória contra o autoritarismo e as convenções machistas, lutando sempre para viabilizar a liberdade de expressão e de vida, nunca poderá discriminar quem quer que seja. Sou do tempo que a androgenia era a arma, a bala da agulha que fazia os babacas daquela época rever os seus conceitos de masculinidade. Fui socialite, hippie, intelectual, e me orgulho de tudo que vi, fiz e aprendi. A Pousada do Arco Íris é também um ambiente friendly sim. Aberta à qualquer pessoa que queira paz, tranqüilidade, conforto, segurança, lazer, contato com a natureza e passar horas super agradáveis e inesquecíveis.
God

Contato com a Pousada Arco-Iris e com God
+55 (71) 633-1130
Pousada Arco-Íris, Mar Grande, Bahia

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