Bruno Silva, o Bailarino da vida

E na vida do bailarino o que tem? Tem emoção, paixão e beleza. Ele é um tesouro inca na Bahia. O peruano Bruno Silva, o consorte da dança é agora um “filho” da boa terra. Com passagens por grandes ballets do Canadá, EUA, Rússia e França, Bruno nos fala da sua arte com a leveza de espírito que lhe é peculiar. O nosso prazer em entrevistá-lo é verdadeiro e tê-lo conosco é uma super satisfação. Começamos assim…

Meninos dançam? Com você o chamado da dança foi intuitivo?  

Sinto que sim. Temo que não saberia fazer outra coisa que não fosse dançar. Com 11 anos em em Lima depois de ter estado em Buenos Aires fui um dos selecionados para um grupo especial que ia se formar para dançar sob os auspícios da Universidade Nacional Maior de San Marcos. E sabe com quem? Com Alejandro Plitzesky. O Ballet de San Marcos, aproveitando a visita de Maia Plitzeskaia em 1974 apresentando-se com “Carmem, Cisne Negro e outros pás de deux”, pediu para ele dar umas aulas e ele ficou três anos. Ele era uma espécie de ícone na época, como era a irmã e o tio Assaf Messerer e gostou muito da minha figura. Em casa, com a moral rígida do meu pai militar não tive muito apoio não. Muito mais tarde já estável na condição de profissional é que pude fazer a ponte entre a minha arte e o reconhecimento familiar. Hoje estão todos convictos de que estou no caminho certo.

Outras influências de dança na infância?

Bastante. Lembro da minha tia e dos seus arroubos de Beatles. Era uma festa dançar com ela. E ouvir na minha infância a Rafaela Carrá [italiana que causava furor na época] era se deixar invadir pela linda sonoridade portenha. Estas coisas eu me recordo muito bem. Sou peruano de Lima. E ainda muito pequeno já sabia dançar o típico de meu país como la marinera, el festejo e alcatraz. Na Argentina, para onde meu pai mudou, já que constantemente servia em outros paises, eu modéstia à parte, era muito bom na chacarera e malambo [uma dança muito similar as bolandeiras dos gaúchos]. Sempre fui magrinho, tenho sorte com o meu biotipo para esta atividade artística…mas hoje em dia os biotipos mudaram muito, para mim foi muito difícil ser baixinho no Canadá, mas deu certo. Como muito, adoro comer bem e diversificadamente. Não engordo porque acho que é a minha genética. E também dançar me faz comer em horas desordenadas mas acredito que me mantenho num equilíbrio físico aceitável. Uma imagem do aconchego do meu lar peruano era o café da manhã bem ao estilo americano, muito bacon, geléias e guloseimas que o meu pai gostava muito. Cresci em torno dos círculos militares. Espécies de clubes de oficiais das forças armadas na Argentina e Peru, e nestas sede sóciais desenvolvi as minhas aptidões pra dançar com uma grande amiga…Kuki Goyzueta.

E o grande momento? Quando veio a decisão de viver da dança?

Aos 16 anos discuti com o meu pai e decidi sair de casa. Nesta época eu já dava aula de aeróbicas. E como professor de dança já me especializara num modismo daqueles anos que era fazer trabalhos disciplinares em cima do vídeo de fitness da Jane Fonda e de explorar muito o conteúdo do musical Fama. As minhas alunas adoravam e eu me esmerava. Foi aí que surgiu o convite me entregue em mãos da excelente Carmem Muñoz para estrelar no seu corpo de baile e ter uma participação especial no ballet “Carmem” no teatro da sua academia. Para a estréia convidei parte da minha família que adoraram. Me senti mais aliviado e seguro em prosseguir com a dança. Depois veio a Escola Nacional de Ballet em Lima onde tive a oportunidade de atuar como estagiário do Ballet Nacional do Peru onde tive como amiga a atual diretora da Escola Nacional Superior de Ballet, de Lima, Gina Natteri.

Dor e paixão se casam na dança?

Ensaios e persistência são importantes e não se torna um bailarino clássico por milagre. A dor existe na profundidade e rigor do treinamento. A busca da perfeição na dança é sempre uma conquista pessoal. Quase todo mundo que quer fazer um bom trabalho tenta se superar à cada movimento. Isto é saudável. Tento passar esta concepção para os meus alunos. Um homem bailarino tem que fazer exercícios que o capacite a segurar o peso dos corpos de suas partners. Tive que fazer muito supino tendo o corpo rígido da minha mestra à levitar no ar. Faz parte. Mas tem a paixão dos movimentos que encantam. Para mim dança é uma expressão da alma. É a encarnação do sublime. É mesmo paixão dançar.

Fernando Buiones e Bruno Silva

Influências, ícones e legados. Quem é quem pra você?  

Tudo muda o tempo todo. Aos 16 anos adorava Anthony Dowell. Amo o Nureyew pela estrela que é, não pelo seu ballet, dançava pessimamente. Dancei com o Baryshnikov em Toronto no ” White oak projet” sob a direção de Mark Morris, ele tem técnica é perfeito, mas lhe faltava emoção. Eu achava isto naquela época, agora sei que com o tempo, na medida que Mikhail foi ficando mais velho a emoção no seu dançar lhe foi chegando. Agora acho o contrario, vejo que sim, ele tem emoção. A maturidade lhe fez muito bem. Hoje admiro o trabalho do danês Nikolay Hubbe e de Damian Woetzel, ambos do New York City Ballet e no Brasil, reconheço como bom o Ballet da cidade de São Paulo Cisne Negro [onde fui professor] e o Grupo Raça da fantástica Roseli Rodrigues. O Ballet de Londrina, onde também ensinei tem muita garra e chances de reconhecimento internacional. Aqui na Bahia, o Ballet do TCA [Teatro Castro Alves] foi uma página muito especial para mim. Uma boa experiência e tenho que reconhecer que em Salvador há uma expressão positiva da dança. Antonio Carlos Cardoso está aí. Produz e é um talentoso diretor. Ele é criativo e trata a dança responsavelmente. Outro à quem devemos créditos impagáveis é o meu super amigo e veterano bailarino Carlos Moraes. Além da sua fantástica genialidade cênica é dono de um excelente coração e caráter. Eu diria mesmo que ele é um patrimônio vivo da dança na Bahia. Em seu tempo soube investir em dons e vocações que passadas gerações hoje se consagram na dança. Ele é criativo e muito mais, responsabilidade é uma face bonita da sua existência de artista e de mestre. Emérito na arte de “descobrir talentos” graças este profissional temos hoje no Brasil e no mundo baianos bailarinos de grande talento e expressão.

A pecha de gay aos homens das sapatilhas procede?

Desde os 11 anos convivi com bailarinos, muitos deles gays e por incrível que pareça tardiamente descobri a minha bissexualidade. Sempre tive atração por mulheres. Quase todas com algum glamour [ sempre gostei de mulheres expressivas, tipo loiras ou bem brancas] , ligadas ao meio da dança com as quais me relacionei muito bem. Fui casado três vezes e tenho um filho de 14 anos, o Zaccary que vive no Canadá com a mãe. Quando adolescente troquei um beijo com um coreógrafo. E foi o máximo de homossexualidade que pintou na minha vida. Muito tempo depois, em Toronto e já aos 28 anos é que aconteceu um envolvimento amoroso com pessoa do mesmo sexo. Creio que também por influência do meio. Me hospedei com um casal gay e passei a freqüentar bares e boites friendlys. Cheguei até a fazer strippers em Montreal e aprendi todos os truques de estar sempre excitado e sacar a cueca no momento certo e as coreografias que mais excitavam os homens. Tive romances e paixões e estou no Brasil graças a um “amor do Recife”. Mas tudo bem. Creio que tardiamente a homossexualidade aflorou por conta da minha dificuldade interior em aceitá-la. O estigma gay da minha profissão de bailarino e mais ainda pela minha formação católica. Fui coroinha de Igreja, ajudava nas celebrações litúrgicas e meu pai, militar, era muito rígido em questões morais. Tudo isto me fazia sentir culpa e nojo de envolvimento homo. Hoje vejo que há naturalidade e liberdade em qualquer das relações.

Aos 41 anos busco qualidade nos relacionamentos, independente de serem do mesmo ou de sexo diferente. Nunca fui de fazer planos para o futuro. Deixo que a vida me leve. O que busco sempre é estar em paz comigo mesmo. Até porque paz de espírito é o cerne da minha alma de dançarino.

Marccelus e Bruno

A Arte do Bruno Silva é acessível?

Sem dúvida que sim. Dou aulas no Projeto Axé. Tenho a sorte de conviver com a essência baiana da juventude. Crianças e adolescentes propensos aos ritmos que encanta qualquer mestre. Passei por ballets e compainhas super reconhecidas mundialmente com o Ballet Du Nord de Bordeaux na França, o ABC American Ballet da cidade de Nova York e do Instituto Rimsky Korsakov de Leningrado na Rússia. Para mim o melhor lugar do mundo é aqui e agora. Estou bem na Bahia, gosto de Salvador e do Brasil.

Vai aqui uma sugestão do Marccelus Portal:

Entrevistando esse artista a gente sente o seu talento e o profissionalismo com que o mesmo trata a dança. E achamos útil recomendar que se alguém desejar ter aulas particulares de Ballet da iniciação ao avançado. Se precisar de consultorias em dança para Universidades, Ongs ou empresas. Ou que estejam necessitando de um projeto ou propostas para a formação de compainhas de dança e/ou corpo de bailes para Instituições. O ideal mesmo é procurar um profissional da competência e com a experiência do Bruno Silva.  Os contatos com o prof. Bruno Silva são os seguintes: (71) 9134-9327 ou (71) 3334 3072 E-mail: brunosilva_99@yahoo.com

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