As Fustigantes: Undergrounds Divine, Vison e Kaka di Polly

Excesso de fofura é formosura em dobro! Invasão de quilos. Bravíssimas as fustigantes gorduchas. Sobreviventes de um mundo gay que ainda congela quem destoa dos demais. Êta mundo mal dos que se acham perfeitos: sempre cruel com os carecas, com os que mancam, sofrem os magérrimos, os que trazem longos narizes, picham-se os obesos, castigam os afetados, etc. Os rotulados de “feios” então? Coitados, purgam sem chances. Vamos fazer um mea culpa? Peçamos perdão aos excepcionais gordos. Particularmente três me são caros. Divine, Laura de Vison e Kaká de Polly.

Abram as cortinas e na cena, a diva drag trash Divine! Falam que o ator transformista Glenn Milstead foi um dos tantos produzidos. Mentira. Somente pode ser realidade, ele nunca negou que tenha começado “comendo merda de cachorro pra abocanhar a fama”. Mas verdade seja dita, desde pequeno em Baltimore já chamava a atenção sobre si. Ele já tinha feito escola na escola “saia maquiando os meninos e vê-lo no ponto de ônibus quase um anjinho não o julgaríamos o ícone que seria no futuro.

Saído da mente de Jhonn Waters, cineasta que apostou no “Pink Flamingo” em detrimento a toda sorte de dificuldades, a coisa deu certo. Era um dos momentos mágicos da indústria do consumo disco. Discoteca em alta e Divine se convertera em ídolo da massa gay. Não era o travesti do play-back, obeso e de grotescas sobrancelhas. Era muito mais. Cantava e representava como ninguém. Guiness o elogiou “É um bom ator”. O produtor Bobby O. apostou no álbum ” Jungle Jezebel”. Ouvíamos em 1982 toda a prepotência sonora da Divine posta à prova. A sua imagem ganhou o mundo. Uma legião de imitadores, curiosos, desmazelados morais a esperava nas pistas. Era uma inteligente doidivanas, mas o seu coração mortal não suportaria os quase 150 quilos de tanto agito. Pesada mesmo, para mim era a sua estatura cult. Abriu caminho para a estética desviante ” universalizou os tipos gordos e caricatos”. Naqueles anos , entre 1979 e 88 era algo estranho. Uma figura assim provocativa causava furor, não era mesmice. Ninguém via tanta maluquice quanto o que existe hoje na internet.

Duas pérolas da Divine: “Não me perguntem tanto porque gosto de comer. Essa gente de espetáculo só me convida para jantar. Depois me questionam, como eu posso viver assim, comendo tanto. Lhes respondo que não quero ser nada, nem parecer com nada que não sou. Como não chateio ninguém comendo, não me chateiem também me perguntando bobagens” e outra que é fantástica ” …levante-te, fica em pé e dê uma volta. Vamos, coragem, olha-me no rosto! Você pensa que é um homem? Já vejo que não és nada, a porta é ali. Vai..”. Depois de explodir nas pistas, o cinema se converteria na futura dedicação exclusiva de Glenn. Pensava em nunca mais, ter que “descer enjaulada numa discoteca”. Mas o destino a queria no infinito, lhe reservara a platéia do céu.

Em 1988, quando se preparava para as gravações, a morte o pegou dormindo enfartando o seu grande coração. Pois bem, foi-se no ápice magistralmente, ainda jovem e com tanto por fazer. Pena. Tanta gente vive tanto, jogam anos na lixeira tendo uma vida fútil..,contudo Oxalá pudéssemos dizer: ressurreição já e o flamingo rosa estaria com a gente.

Nos anos 80 e até 98 indelével….martirizante ou imperdível era estar, ser apresentado ou respirar o ar da felliniana Laura de Vison nas suas escatológicas noites do centrão carioca. Professor Norberto de dia e espalhafatosa à noite, a antiga Laura do “Lês Girl” da década se 60 do Teatro Carlos Gomes sobrevive. E não precisava ser eloqüente, nem mesmo se encher de maneirismos artificiais. Fingir alegria ou rir como uma hiena maluca. Gesticular desmedidamente ou bater boca em dublagens insossas, pra que?. Ela não precisava de truques para reter sobre si a atenção da platéia.

Laura de Vison sempre foi divina sendo tão somente ela mesmo. Ou seriamente atuando como em “Mamãe Parabólica” do Favilla fazendo três personagens muito loucos. Nos melhores anos dos noventa cabia os buxixos dos aprontes da Laura nos guetos. Todo mundo comentavam boquiabertos como a “Diva Trash” se melecava com sangue [ou seria katchup?] ovos cozidos saídos da bunda ou mordidas em fígado cru .

Bastava aparecer, tal o cogumelo de bomba atômica, a gorda extravagante era a “coisa” a mais a ser vista, apreciada ao lamber e jogar o peito enorme pra trás, fazer umas lambanças com algo nojento, dizer piadas e brincar com as bibas. Isto significava desvario. Era duro deixa-la retornar aos camarins do Cabaret Boêmio. Longos programas de TV em cadeia nacional a focaram como “a irreverência” em pessoa.O surgir na cena queer brasileira da bizarra Laura de Vison vale qualquer tese de doutorado em arte caricatural. Tal Maria Candelária esta “adorável nojenta” faz parte. É a cara do Rio. Um tombamento à sua pessoa é fundamental.

Nasce a nova era e neste novo milênio “ser você mesmo” se aplica muito bem ao psicólogo Dr. Carlos, o “Kaká di Polly” . Alto astral, representa São Paulo no espetáculo “Miss Brasil sou eu” no Teatro Bibi Ferreira e na flor dos 44 aninhos a Maria Gorda é uma faca amolada. Aposto que tem origem, educação esmerada pois escuta e sabe receber bem. Ele mesmo confessa que dá tudo por uma boa roda de amigos e tricotar muito. Como deve ser maravilhoso e bacana, sentar com o felpudo e se danar à conversar.Ele está sempre ilhado de vips do meio e sorri muito especial. O que lhe revela uma personalidade carismática.

Montado ou desmontado Kaká surpreende. O bacana é o anúncio, o produto e tem cartaz.Se observarem bem Mr. Di Polly nunca se repete nas fotos, não há poses, há a expressão da fofura e naturalmente Kaká tem estilo. Arde de tanto fogo interior e ilumina quem lhe cerca. Desinibido, hilário e matriz do riso.Me chama a atenção seus modelitos multicoloridos. Como são ricos no acabamento e distintos na volumetria. È um pulsar de emoção ver as manhas e os dons do cheinho.

Penso no dia em que seríamos felizes em ver Kaká numa deflagadora produção, tipo assim “La Di Polly rasga o Céu” recheado de fervidos partners a correr o país… pelo amor de Deus, canhão de luz na fabulosa…olha o talento ai gente. Uma temporada de Kaká, rápido! Mother Polly é umas destas criaturas de Olorum feitas para grandes acontecimentos. Não é atoa que a pesada divindade nos abençoa Motumbá axé, caô cabeci, ilê Xangô.