Jean Lonjarret

Jean Lonjarret e a LusoGay em Paris.

“Em Paris fazia um frio terrível. Cheguei do trabalho e era uma sexta-feira. Então não quis ficar em casa, eu queriasmo era me divertir. Senti que aquele dia seria o primeiro de uma série outros super felizes. Por coincidência. Pensei num país chamado Brasil e num dado momento escutei no rádio um sucesso dos artistas brasileiros “Lês Etoiles” e como numa premonição pensei, eu bem que poderia ter um amor brézilien. E foi assim que a sorte me sorriu e conheci num restaurante, fazendo comida baiana, o meu companheiro Raimundo, com quem estou “casado” há vinte e um anos”. Esta romântica confissão me foi feita em meio a uma reunião em petit comitet e numa cobertura na Pituba em Salvador, ambiente que vem a ser a residência de verão destes simpáticos militantes homossexuais. Este amor franco-brasileiro poderia ser somente mais um das tantas uniões gays binacionais se não fosse o detalhe, o ilustre produtor de filmes industriais, promotor de eventos e letrado Jean Lonjarret na verdade se converteu, ao longo do tempo, numa uma espécie brilhante de “amigo do nosso idioma”. Passou a interagir junto a Associação GLBT LusoGay de Paris, da qual se tornou porta-voz e agente de comunicação e que congrega homossexuais das diversas nacionalidades que tem como ponto em comum a língua portuguesa.

Como surgiu a Associação Francesa de Cultura Brasileira e Lusófona – Lusogay e qual o objetivo?

Estamos organizados desde 1998. E o nosso objetivo é lutar pela maior visibilidade gay e lésbica e principalmente congregar os homossexuais que falam português e que vivem na França. Especialmente promovendo a maior convivência entre brasileiros, portugueses e cidadãos de outros paises que tem este idioma como língua mater.

Cite uma das dificuldades enfrentadas pela Lusogay?

Justamente a de fazer com que homossexuais portugueses e brasileiros tenham uma maior proximidade e interajam entre si. Se misturem mais e troquem informação. Cada vez mais estimulamos os contatos entre ambas as nacionalidades. E a nossa estratégia é sempre a mostra dos valores culturais de ambos os países – Brasil e Portugal – para que, através da arte, de outros movimentos sociais e das demais manifestações congêneres as pessoas possam estabelecer diálogo, se sentirem participativas e orgulhosas de serem gays ou lésbicas irmanadas pelo mesmo idioma. Existe uma tendência natural, até mesmo na própria Lusogay que é das pessoas – brasileiros ou portugueses – formarem pequenos grupos e se isolarem dos demais ativistas, dos simpatizantes franceses ou dos minoritários africanos. Isto não é bom e não é o que queremos. É por isso que estimulamos a união de todos. Acreditamos na diversidade e apostamos numa “fraternidade gay” como algo que fortalece a construção de uma sociedade mais justa.

Há alguma particularidade nesta mescla gay de nacionalidades?

Claro que há. Observamos que os brasileiros homossexuais que integram a Lusogay são mais originais e espontâneos, parecem mais liberais em detrimento a retrógrados conceitos morais e existe nestas pessoas, um sentimento de liberdade que alicerça um grande otimismo com relação a vida homo. Acredito – que sendo “Paris uma festa” para muitos – eles se sintam à vontade sendo gays na França. Mesmo porque o entendimento é simples. Estão fora de casa, não tem a familia castradora por perto, nem gente do trabalho ou vizinhos lhes bisbilhotando a vida, são cidadãos anônimos numa multidão e ninguém os conhece e dada as várias opções de lazer e de prazer gay em Paris, só não aproveitam esta liberdade e “soltam a franga” se não quiserem. Quanto aos portugueses, penso que a realidade já não é a mesma. Muitos deles tem parentes e familiares em Paris e imagino que por esta razão não possam externar uma vida gay totalmente explícita tal qual os brasileiros.

Como atua a Lusogay?

Ainda não temos uma sede própria. Somos na capital francesa mais uma da quase centena de organizações homossexuais que integram a International Associative LGBT. Um tipo de confederação que atua em várias frentes de luta e que promove o grande evento que é a Marcha do Orgulho Gay de Paris. Normalmente agendamos as nossas reuniões todas as primeiras e terceiras terças-feira de cada mês, em um bar que se chama “A Pequena Vertú” no Cartier Gay de Paris – Marais e a conversa gira em torno de temas de interesse homossexual. Publicamos e divulgamos via WEB um jornalzinho chamado “Arco-Íris” que tem quase sempre endereço certo, por mala direta aos nossos associados e também a Prefeitura de Paris, as representações estrangeiras, ao Instituto Camões e ao Consulado de Brasil. Em se tratando deste ano 2005 – o Ano do Brasil na França – avolumam-se as idéias e as iniciativas para que não passe em branco tão memorável data. Particularmente a Lusogay foi muito feliz nos últimos tempos ao se sair vitoriosa juntamente com outras organizações de Direitos Humanos, porque unindo forças fizemos com que o Governo da França sancionasse uma lei contra a homofobia equiparando tal pratica ao crime de racismo. Um ganho surpreendente e benéfico aos gays e lésbicas que vivem em meu país.

Esta tua formação socialista é a base do teu inconformismo diante das injustiças?

Fui militante do partido socialista francês. E com relação aos anos difíceis do autoritarismo no Brasil, senti muito pelos brasileiros perseguidos pelo regime militar e sempre que pude ajudei a refugiados brasileiros. Empreguei em minha produtora na década de sessenta, gente muito capaz fugida da ditadura. Fico feliz com os novos rumos do Brasil e acredito mesmo que esta página triste da história brasileira já passou.

Uma mídia GLBT é também uma conquista?

Sem dúvida. Se tomarmos como exemplo desta mídia a televisão e na França o pouco tempo da TV Pink, um canal que vem crescendo em popularidade e com 24 horas de programação Gay, notamos como tal veículo tem ingerência na vida das pessoas. E no Brasil o fenômeno da televisão é inequívoco. Aqui moda, estilos de vida e opinião formada quase sempre permeiam em torno da “Vênus Platinada”. E pensando bem, um canal GLBT no Brasil, de acesso gratuito e centrado em aspectos positivos da homossexualidade seria, sem a menor dúvida uma grande conquista. Sou produtor e possuo experiência com filmes industriais. A apresentação do produto é um degrau seguro para o sucesso. Ainda teme a homossexualidade quem não a conhece. Mais aspectos e criações Gays e Lésbicas sendo apreciadas com certeza redundará em menos ignorância e homofobia diante do tema.

De volta a Paris e do Brasil, você leva saudade?

Sempre guardei um cantinho no coração reservado ao Brasil. Uma paixão antiga desde os tempos do Baden Pawell e do Vinícius de Moraes, artistas que eufazia questão de escutar bastante. Acho muito talentosa e sou fã da Maria Betânia, não perco um show dela na França. Vivendo ao lado de um piauiense que faz lindas fantasias de carnaval, que cozinha uma moqueca como ninguém e que me faz lembrar o calor dos trópicos nos carinhos diários, eu te falo que é um pouco impossível não me considerar brasileiro também. Espero que mais e mais gays e lésbicas deste país escolham a França para passear e intercambiar interesses diversos. Ao contrário da pecha reinante, não somos “metidos ou xenófobos”, pelo contrário, é só lembra um pouca da história da humanidade e constatar três palavras básicas que a França exemplificou ao mundo e das quais surgiram uma nova ordem social; “ Liberté , égalité , fraternité ” . Estaremos a postos na Lusogay para dar a nossa contribuição ao Ano do Brasil na França porque simpatizamos em muito com esta grande nação e a sua gente maravilhosa.

FOTOS DE AMIGOS DE JEAN E RAIMUNDO

Association LusoGay
Lusogay Chez C.G.L 3, Rue Keller – 75011 Paris – França Tél. 06 09 12 80 07
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