ENTREVISTA COM O DESIGNER E FUNDADOR DO PAROUTUDO
Por Marccelus Bragg
O céu de Brasília, surpreendente para muitos, qual a tua sensação em contemplá-lo? O quase poder tocá-lo é magia?
A beleza do céu de Brasília é impressionante, tanto para os nascidos aqui quanto para os candangos como eu. É comum quem mora perto do mar ou da montanha se acostumar com a beleza natural do lugar. Em Brasília isso não acontece; de dia o céu surpreende pela tonalidade do azul, de noite pela quantidade de estrelas. A arquitetura horizontal da cidade e a ausência de poluição favorecem essa visão única, que já inspirou muitos artistas brasilienses.
Entre Minas e DF, quais as diferenças? O choque cultural? E as emoções? Saudades? Qual a melhor definição pra “candango”?
É quem vem trabalhar duro em Brasília e se apaixona pela cidade, se sentindo parte dela. Cresci em Uberaba, mas desde pequeno tinha a sensação de que aquele não era meu lugar. Quando me mudei para Brasília, não conhecia ninguém e estranhei a frieza das pessoas. Eu era totalmente inexperiente em assuntos relacionados à homossexualidade. Logo que entrei na UnB, fiz novas amizades e essa impressão mudou. Hoje me considero brasiliense. Sinto falta da minha família em Minas e tenho boas recordações da minha infância, mas não tenho saudades da minha vida em Uberaba.
Um dos mitos por este Brasil afora é sobre o circuito underground de Brasília. Dizem que na corte é onde tudo acontece. Ousar combina com a Capital Federal? Ainda há rebeldia em meio à burocracia brasiliense?
Existem duas Brasílias: a local e a nacional. A capital do Brasil é política, burocrática e, quase sempre, comportada. As pessoas que trabalham nela são de fora, vêm aqui a trabalho e viajam nos fins de semana para aprontar em seus Estados (risos). A Brasília local é mais morna, ainda em crescimento, mas muito original. Na música, não é à toa que Renato Russo, Zélia Duncan, Cássia Eller, Capital Inicial e tantos outros artistas “ousados” de outras áreas saíram daqui.
Até outro dia você era um adolescente. Está se tornando um homem adulto repleto de potenciais. Em um curto espaço de tempo tem chamado a atenção sobre o seu trabalho e acima de tudo à sua competência na comunicação e mídia. Diz pra gente. É talento nato? Determinação ou paixão?
Acredito que um pouco de cada e também na minha vontade de ir além. Meu pai é engenheiro, minha irmã publicitária, tenho tios e primos arquitetos e artistas plásticos. Desde pequeno meu pai me estimulava a desenhar e a colocar minha criatividade pra funcionar. Na adolescência tive contato com programas gráficos e, desde então, procurei me especializar no assunto. Sempre adorei televisão, rádio, e todo tipo de assunto relacionado à comunicação. Aos 18 anos tive a sacada de integrar esse conhecimento e fundar o ParouTudo.
Como nasceu o ParouTudo? Me explica passo à passo a influência do meio – Brasilia – sobre o Portal.
Nasceu com um blog de amigos, mas logo se profissionalizou e, com a entrada dos meus sócios Filipe Scafuto e Thiago Malva, hoje somos a marca mais forte no Centro-Oeste em comunicação e produção de eventos gls. Viramos produtores e performers de festas, apresentadores de programa de rádio, cantores de drag-music, fazemos jornal impresso, etc.
Você tem uma equipe? Quem está contigo desde o início? Você foi editor-chefe do Parou, agora não é mais. Por que?
Fundei o ParouTudo com um monte de amigos, mas hoje somos três donos. A equipe de apoio e colunistas é formada por colaboradores que se oferecem para trabalhar com a gente. Fui editor-chefe desde o nascimento do portal até a semana da parada de Brasília deste ano. Entrei de férias depois de quase 3 anos e aproveitei para me dedicar e investir no lançamento da minha exposição. Estava cansado do que fazia, mas não de trabalhar com o ParouTudo. Vou viajar para o Canadá e quando voltar devo cuidar da parte de criação e concepção de idéias da marca.
Uma das coisas que nos tem feito bem é ter o contato com a tua imaginação fértil. As tuas festas temáticas, com figuras vestidas à caráter e meio teatralizadas são fantásticas, uma em especial a da Páscoa de 2004 é bela. De onde vem esta vontade de acertar? Dá muito trabalho projetar eventos assim? Há o retorno do público? As pessoas entendem a mensagem de uma festa inteligente?
Dá muito trabalho, mas é compensador. Não pelo dinheiro, mas mais pelo retorno do público. Em Brasília as pessoas reclamam muito da mesmice, da falta de opções e tal, algo que se repete em quase todo o Brasil, com exceção de poucas cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro. Criamos o grupo Milk-Shake Stars para dar asas à nossa veia teatral e investir nas festas temáticas. Nossas produções são absurdas, como a festa Hot Dog, que teve como mote o fast-food misturado com conceitos lúdicos e sensuais. O público valoriza isso e já recebemos convite para produzir nossas label parties em outras cidades.
O que você pretende no campo pessoal após o curso de comunicação? Ter esta experiência com a comunidade GLBT pode influenciar no teu futuro profissional?
Além do trabalho no ParouTudo, estou também fazendo meu nome como designer. As estampas de camisetas estão me dando uma ótima repercussão e agora pretendo investir nisso. Acredito que graças à minha experiência com a comunidade GLBT pude amadurecer esse trabalho.
Como figura carimbada no ativismo local, você vê acertos na luta contra a homofobia? Quais na tua opinião são as bandeiras de luta do MHB que realmente se afinam com realidade homo? Digo na prática e no dia a dia? As cores do Rainbow são imaculadas? Elas podem dizer sim a uma diversidade?
Não me considero um militante. Deixo a militância para os ativistas. Sou apenas um gay bem resolvido que trabalha com o público gay. Acredito que ainda falta profissionalismo no mercado GLS e quero trabalhar para mudar isso.
As “Camisetas fora do Armário”, sua mais recente façanha, refletem o seu estado de espírito? O que é sair do armário para você?
É se entender como gay e estar preparado para assumir isso. Esse é o tema da minha primeira exposição. É meu début como designer e quis que fosse relacionado com meu público atual. Ele reflete uma experiência de vida, é cheio de referências da pop art e tem tudo a ver com essa minha nova fase mais autoral.
Garoto, inteligente, style e belo. Qual o ingrediente que falta para que você seja considerado o “homem perfeito”?
Hahaha falta muita coisa! Aliás, se eu fosse listar o que falta, daria uma outra entrevista. Posso dizer que no campo pessoal sou muito feliz com minha vida e agradeço às oportunidades que tenho tido.
Thales Sabino e Brasília são sinônimos de que? Em que se harmonizam e em que se detestam?
Thales Sabino é sinônimo de idéias novas. Brasília é sinônimo de cidade que respira design. Nos harmonizamos no quesito arte e nos detestamos no quesito burocracia.
Quem quiser falar ao Thales faz como?
Adoro gente. Adiciono todo mundo no MSN e no Orkut. Quem quiser comprar minhas camisetas, o site é www.paroutudo.com/camisetas e quem quiser falar comigo é só me add.
MSN: thalesboy@hotmail.com; Orkut: Thales Sabino.