III SEMINÁRIO DA DIVERSIDADE EM FEIRA DE SANTANA
Evento em Colégio traz palestrantes ilustres
Por Marccelus Bragg
“O escutar faz pensar” e quem teve a oportunidade de ouvir as brilhantes exposições no III Seminário sobre Diversidade Sexual: Homoparentalidade e Adoção, saiu de lá com a cabeça cheia de coisas boas. É que durante os dias 13 e 14/07 a Universidade Estadual de Feira de Santana, o Grupo Muliéribus e o GLICH – Grupo Liberdade e Cidadania Homossexual promoveram no auditório do Colégio Estadual Luis Eduardo Magalhães, este evento que integra o calendário pré-Parada Gay de Feira de Santana e que contou com participações bastante especiais.

Desafiando o comportamental massacrante e desestimulador das “sexualidades diferentes” pela familia, o psicanalista e doutor em educação Antonio Vital fez uma falação simpática e cheia de elementos lúdicos em “As consequências psico-comportamentais diante de um novo papel social de pai e mãe”. O cientista , que tem muitos fãs na cidade dada a sua inteligência e tirocínio fantástico, foi do mito grego de Ícaro para mostrar aos presentes que os “sonhos”, ainda que perigosos e sujeitos ao ódio alheio, é uma prerrogativa humana, e citou Sartre “ Não importa o que fizeram do homem, mas o que o homem faz do que fizeram com ele”. E que o prazer é possível ao indivíduo desde que este esteja bem consigo mesmo.

Já o Dr. Enézio de Deus, que ocupou a mesa enquanto, bacharel em Direito, autor do livro “A Possibilidade Jurídica de Adoção por Casais Homossexuais” e mestre universitário. Citou leis que abragem o tema e foi enfático na questão de que o judiciário tem que olhar a “afetividade” entre as pessoas como fator preponderante nas suas decisões. Inclusive o jóvem e bonito advogado é o autor de uma expressão que foi bastante discutida no evento a “homoessência”. Palavra cunhada para se entender que o sentimento que une duas pessoas do mesmo sexo não é um dito equivocado, mas uma compreensão mais que acertada e real. Este vículo afetivo não pode ser negado por legislador algum e num país cruel, onde milhares aguardam nas filas por adoção, obstruir a oportunidade a casais homossexuais de adotarem é por demais injusto.

Já a parte mais sentimental deste III Seminário da Diversidade ficou por conta da auto-intitulada “Mãe de Lésbica” Walquíria barbosa. Com a sua postura afirmativa frente a questão, a assistente social e orgulhosa mãe da Thais, uma lésbica campineira de 32 anos desabafou aos presentes: “ Quero que vocês entendam que nós mães não sabemos de tudo. Quando soube da homossexualidade da minha filha e uma amiga minha me traçou um quandro dantesco do que seriam as lésbicas – barraqueiras, drogadas e tragicômicas – pensei comigo: essa pessoa está equivocada, a filha que eu criei não é isso. A minha filha é uma moça decente e cheia de princípios bons. Lésbica ou não, tudo que eu lhe ensinei de dignidade ela guarda consigo. Daí fui estudar, ler muito e entender o que seria o “ser lésbica”. E hoje, não só apóio integralmente a decisão da minha Thais, como vou além e me coloco na linha de frente em favor das minorias sexuais. Tanto que estou aqui hoje dando este depoimento o que me faz muito feliz.”.


Para Rafael Carvalho, presidente do Glich e um dos articuladores deste Seminário “ estes dois dias de discussão aprimorada sobre a homoparentalidade e a adoção é uma junção de forças no sentido de se criar uma nova mentalidade. O algo transformador necessário e principalmente dirigido aos adolescentes e jovens desta unidade de educação, já que em se tratando de temas tão intrínsecos á Diversidade repassar esta humanização é fundamental”

No seu primeiro dia o III Seminário contou com as presenças da Psicóloga Rosângela Castro que falou sobre “As manifestações do poder entre pares homoeróticos ou o impacto das novas bandeiras de luta do Movimento Homossexual nos relacionamentos íntimos”, já outra psicóloga Patrícia Araújo discorreu sobre a “Reinvenção das relações familiares dentro da contemporaneidade: perpetuando a concepção de familia enquanto laços de afetividade” o Dr. Ricardo Sampaio, especialista em Processo Civil e analista previdendiciário, falou no seminário sobre “ A Familia na Constituição de 1988: A inserção da União Afeitva”. Dentro deste evento também se falou no tema solidão e velhice entre os homossexuais, pelo psicanalista e artista Gilberto Rios. A Seguridade Social para os Parceiros Homossexuais, por Pedro Bomfim do INSS de Amélia Rodrigues e o “Reconhecimento, o Silêncio e a luta pelo Amor” pelos expositores Nilson Belo e Clementino Oliveira.

Uma das mostras do III Seminário foi a apresentação do Filme do cineasta espanhol Pedro Almodóvar , “Tudo Sobre Minha Mãe”. Crucial ficção, cujo drama familiar explicitado na película caiu como uma luva às discussões em pauta.
