Costurando a Dignidade das Travestis

Na Bahia, a ATRAS, promove um Curso de Corte e de Costura para as suas filiadas.

A Costura do Respeito.

Por Marccelus Bragg

Perto da Fonte do Gravatá e no centrão antigo da cidade do Salvador, existe um curso profissionalizante muito singular. É que na arrancada por tornar real a propalada “inclusão social” , em que diversas entidades civis e tantas ONGs se dedicam a resgatar da cidadania dos excluídos, a ATRAS/BA – Associação das Travestis da Bahia, está promovendo uma formação técnica em Corte e Costura para travestis e transexuais.

As meninas podem ser vistas entre máquinas industriais, as retas, as precisas galoneiras e as de fino acabamento como as de overlock. E o desafio do aprendizado parece que está sendo driblado pela inteligência das aprendizes. Elas conseguiram e se mostram muito orgulhosas por em tão pouco tempo de aula, já terem confeccionado a sua primeira peça, um “colete” em Kami, numa etapa inicial para que todas se familiarizassem com o manuseio correto dos equipamentos e com a textura dos materiais.

Segundo a instrutora Creuza “eu sempre costurei para travestis, mas esta é a primeira vez que eu tenho a minha volta, tantas alunas desta natureza. Estou contente, porque vejo a vontade de aprender no rosto de cada uma. É com orgulho e com bastante satisfação que vou dar o melhor de mim para que todas entendam o máximo de costura. É sempre um prazer a pessoa poder fazer a sua própria roupa e se sentir na moda. Isso levanta a auto estima e dá alegria de viver”.

O curso de corte e de costura para as travestis é uma iniciativa dentro do Projeto intitulado “ Passo á Passo conquistando Espaço” , tem o apoio da Coordenação Estadual de DSTs/AIDS e da Pathfinder do Brasil e nesta sala de aula, há uma média de 20 travestis, associadas também a transexuais e a transformistas. E fica muito evidenciado que – este curso de capacitação – não se trata de uma catequese ideológica, de cunho moral ou religioso e muito menos, de ingerência na vida privada alguém. O aprendizado desta nova profissão – a de costureira – seria dentro da das metas da ATRAS/BA, tão somente uma alternativa a mais de subsistência da travesti. Um aprendizado a que ela poderá recorrer no caso de uma necessidade maior ou para o próprio prazer pessoal em fazer a sua roupa e poder assim, potencializar a sua criação.

Nas palavras da Keila Simpson, presidente da ATRAS/BA, “ não queremos que ninguém abandone a prostituição para se tornarem costureiras, afinal cada ser humano tem o seu próprio e respeitado livre arbítrio. Contudo, o que for possível apresentar aos travestis como forma saudável e profissional de novos ganhos, nós o faremos porque entendemos que a sociedade não tem dono, não deve existir senhores do saber e nem pessoas de segunda categoria. As travestis são tão normais quanto qualquer outro cidadão, e se os outros podem, nós podemos também. E este curso é só o começo.”.

Parece que o vento sopra a favor das travestis costureiras porque, como numa questão de apoio solidario, já estão sendo encomendadas ao grupo as perucas em tecido colorido que serão usados pelos Bandeireiros do Rainbow da IV Parada do Orgulho Gay da Bahia. Além da grande festa que teremos no final do curso em dezembro, quando em praça pública, tipo um dos Largos famosos do Pelourinho, as travestis serão as modelos das suas próprias criações. Desfilarão para os presentes ao som dos atabaque e dos agogõs da boa terra.

E como não há ponto sem nó, todas as travestis deste curso de Corte e de Costura da ATRAS/BA já tem uma tarefa de avaliação: “descer ao brechó da Baixa dos Sapateiros e comprar um peça por 3 reais que será modificada pelas próprias. O antes e o depois será avaliado pelos coordenadores e documentado em fotos que serão exibidas durante o desfile de conclusão do curso”.

Quem quiser se inteirar mais deste projeto e conhecer o trabalho destas travestis costureiras entre em contato com a Atras/ba:

KEILA SIMPSON

PRESIDENTE DA ANTRA – 71 3322 2552 / SALVADOR/BA

atrasba@yahoo.com.br

MAIS FOTOS DO CURSO E DAS COSTUREIRAS: