O VERDADEIRO CAPITÃO GAY É SAN JUAN CATTANEO
Conheça o Capitão Gay Gaúcho, um herói de verdade. Vivo, inteligente e lindo.
por Osmar Resende e Marccelus Bragg
Pelotas sempre foi um celeiro de filhos ilustres. Um deles o advogado e militante João Antônio de Souza Mascarenhas, fundador do Movimento Homossexual Brasileiro. Atualmente, um outro gaúcho entra em cena e chega acima de proselitismos – o tal rebento veio pra ficar e vai causar falatórios por toda uma eternidade. Será sempre lembrado nas rodas tradicionalistas daquele estado. O nome é pomposo José Antonio San Juan Cattaneo. O tipo físico – alto e forte tal um urso adorado, bonitão, bem falante, um daqueles “gauchitos” criados no leite puro e natural, sadio e de bochechas rosadas , dono de uma voz máscula e inconfundível. Quando a gente começa a conversar com ele se tem a sensação de já conhecê-lo faz tempo. Bom de lábia e envolvente. Sabe um daqueles pimpolhos que teve o amor da matriarca e que se empaturrava dos famosos doces pelotenses?
Pois é, essa criatura existe e atende por José Antonio San Juan Cattaneo. E ele cresceu.
A irreverência tomou corpo e o agigantou nos propósitos. Tornou-se um bacharel em direito, advogado capaz e formador de opinião, super respeitado. Amados por muitos, odiados por outros, mas visto e jamais morno. E atua em sua região às vezes como radialista, causando frisson monumental quando leva à rádio a sua “prenda e travesti a Renata ou os Meninos Renegados ” figuras excluídas do tradicionalismo gaúcho. E quando resolve escrever então, é imbatível e a sua coluna em jornal local, em dias de inspiração chega a ter duas páginas. Mas como sempre o Capitão é bombástico, daí a tanta curiosidade sobre a sua pessoa.
Um belo dia, cansado de ver, de ouvir e de sentir o preconceito – às vezes velado às vezes explícitos – contra os seus pares gays e lésbicas, ele se revoltou.
Parou diante do espelho. Encarou o próprio olhar e pensou: “..então não sou eu que vou me calar”. Tomou uma atitude séria. Pediu uma benção a mãe Madalena “eu não sería capaz de fazer qualquer coisa neste planetinha insignificante do universo, se não tivesse a mãe que tenho. Razão de eu nascer, razão de eu viver. Exemplo que conduz, atitude que anima, força que não diminui, determinação que não desiste, vontade que não se acaba, carinho que não finda, amor que seduz, por que não tem cobrança. Eu e o Capitão temos um pouco da Madalena e nós dois juntos, não chegamos nem perto dela, nem do seu brilho, nem da sua grandiosidade, nem de sua infinita generosidade. Então meus amigos, eu sou um gay alternativo ou ROI (Radical, Obsessivo e Independente), por que amo uma mulher, amo demais, sempre amei e sempre amarei. E ela é tudo para mim. É a minha mãe !”.
E escudado neste amor maternal ele, San Juan Cattaneo começou a equipar o seu exército interior. Nasceu assim o “Capitão Gay”. Não o confundam com algum personagem de TV. Porque de palhaço, de bizzarro ou de maluco, o nosso herói Capitão Gay San Juan Cattaneo não tem nada. Ele pode até chamar um pouco a atenção sobre si. É a sua maneira talvez de externar a auto-estima, o seu orgulho em ser homossexual. E a sua paixão pelo Rio Grande do Sul. Tem algum porém? Que mal há em que o faça? O que está por trás – e à menos que eu esteja errado – é o seu apego a visibilidade homossexual numa terra infértil a tal. Num meio em que o ser “machista” é incentivado. É a homofobia, muitas vezes acobertada de tradição e costume. Falo isto porque quando questionado sobre esta auto-intitulação e sobre a tal “patente” o mesmo tem a resposta na ponta da língua “ Sou o capitão de um exército revolucionário e que existe dentro de cada homossexual ”.
E sobre os seus feitos nos relata o destemido San Juan: “AS Cavalgadas do Capitão Gay e dos Renegados do MTG em duas edições, aconteceram em direção à Porto Alegre com o fim de divulgação do preconceito e discriminação violenta existentes no MTG do qual fazemos ( a contragosto deles, mas fazemos) parte. Movimento tradicionalista Gaúcho homofóbico no mais alto grau de ignorância, com apoio oficial do governo do estado do RS. Como nos achincalham com adjetivos pejorativos, resolvemos nós (as gurias de calças-hi,hi,hi…) de cutucá-los bem no calcanhar dos machões. Fizemos a primeira cavalgada gay deste estado e deste país em sua história moderna (apesar que não lembro de nenhuma outra antigamente – pode ter acontecido mas não houve registro), com gays, travestis, e heteros percorrendo 255 km que separam Pelotas de Porto Alegre. Invadimos num sábado, 7 de setembro, o acampamento Farroupilha no Parque da Harmonia.
Chegamos em três em Porto Alegre, com nossas três bandeiras (Arco-ìris, Pelotas e RS) e entramos à cavalo. Nunca, antes de nós, quaisquer loucos de quaisquer grupos/associações haviam feito este desafio aos machões do MTG, dentro do território reservado para eles pelo governo. É claro que fechou o pau e apanhamos um pouco (o básico), umas tijoladas, algumas facadas, outras pauladas mais, entramos e saímos (escurraçados, mas estivemos lá – hi,hi,hi…).
Entramos com galhardia em Porto Alegre, naquele 7 de setembro (vejam as fotos). De certa forma, declaramos nossa independência naquele dia, pois enfrentamos nossos inimigos declarados. Mas não fugimos da luta. Aliás, éramos três e eles mais de três (mil acampados ). Depois do 7, veio o 20 de setembro. Como apanhamos bem no 7, acharam que não voltaríamos. Enganamos todo mundo. Voltamos e o Capitão (infiltrado) desfilou sozinho no meio dos inimigos e desfraldou a bandeira do Arco-ìris na frente do Governador Olívio Dutra e fez declarações contundentes.
Apanhei de novo, mas acabamos com o desfile pois mostramos ao povo que , na verdade, o culto ao Rio grande (Liberdade, Igualdade e Humanidade inscritos na bandeira) era uma farsa. Ninguém mais, além de nós, foi ou vai à cavalo do interior para a capital do estado participar dos festejos Farroupilhas. No ano seguinte, fomos de novo e, antes de Porto Alegre, fomos alvejados durante a noite.
Como apelaram para as armas de fogo, desistimos da Cavalgada (ficávamos expostos por muito tempo). Ano passado, como a cavalgada estava perigosa, alugamos um helicóptero (mil dólares a hora no ar) para aterrisar literalmente no desfile, sobre o Governador. 20 de setembro era uma segunda-feira. Começou a chover 02:00 DA MANHÃ e não parou mais. Sem teto (tava em 500 e precisava no mínimo 800), não levantamos voo. Passamos o dia no hangar do aeroporto e voltamos arrasados para casa. Levamos até cinegrafista da TV Cidade, desfolhamos mil rosas colombianas (aquelas grandonas e lindas) para jogar as pétalas sobre eles quando estivéssemos chegando, com cinco quilos de purpurina rosa. Pelo menos a purpurina não estraga e temos ela intacta”.
Como o San Juan Cattaneo é um homem único, de raro perfil e de insondáveis atitudes, conhecê-lo mais é fundamental. Então ninguém melhor que o próprio para nos falar mais de si: “O Capitão Gay é a idéia que precisa ser divulgada, não a pessoa que incorpora o personagem. Quando estou na (maior parte do tempo) militância como Capitão Gay, é ele que pensa, analisa, reage, critica, condena, provoca, debocha, enfrenta, assume, etc… A pessoa do San Juan, não interessa. E, não interessa mesmo, por que o próprio San Juan abriu mão de uma série de situações pessoais (relacionamentos, oportunidades, amizades, família, risco de perder a carreira de advogado-foi processado pela OAB) para criar, defender e manter viva a idéia do Capitão Gay- Revolucionário dos Pampas. Por este motivo (deixar de responder questões da vida pessoal), peço desculpas.”, “Não sou (somos, eu e o Capitão!) um gay convencional. Até porque, condeno certas convenções do nosso mundo. Vejam/pensem bem! Se somos contra o preconceito (qualquer que seja) que nos vitimiza, por que utilizarmos “idioma” que deixa de fora as pessoas que não são gays ? Como ser amado e respeitado, lutando pela inclusão social, se utilizo (amos) idioma (manas, bibas, bofe, neca, bafão…) que exclui da conversa quem não é gay ? Nosso linguajar particular é uma das questões. O mundo gay é tão diferenciado e subdividido (travestis-bombados ou não,transformistas, transexuais, não assumidos publicamente…) que fica difícil uma organização mínima, sem concorrência de vaidades destas diversas categorias,no meu entender, um dos fatores que impede o reconhecimento de nossa força pela sociedade como um todo.
Além desta competição de vaidades, também existe a forte influência partidária (há entendimento que os partidos de esquerda são mais acessíveis aos gays) que domina, vincula e usa ONGs como elemento de apoio partidário. Isto é intolerável! Este atrelamento é outra questão.”, “A camionete do Capitão (uma GM Silverado) foi elaborada (foi tirada a pintura original para receber os adesivos) para o evento na Praia do Cassino, em janeiro 2003, município de Rio Grande – RS. Fez tanto sucesso junto ao público que não foi mais desfeita. Viaja por todo o estado, onde quer que o San Juan vá trabalhar, ou, o Capitão festejar. No ano 2004 ela foi para o Carnaval no Rio de Janeiro, onde o Capitão desfilou na São Clemente, comandando a Ala dos Veadinhos.
Depois fomos (eu com o Capitão ou ele comigo, tanto faz) a São José do Rio Preto – SP, município que patrocina operações de mudança de sexo para transgêneros pobres. Também já participou de Cavalgadas Gays contra o preconceito do MTG. Por isto o Capitão, na maioria das vezes, se apresenta pilchado (vestido como gaúcho tradicional – para provocá-los), como na Parada Gay do Rio de Janeiro, em junho 2004. Nós só não participamos mais de eventos, por falta de tempo e de dinheiro”. “Estas são nossas loucuras rapazes. Somos poucos mas fazemos um barulhão. Por, isto, também, não somos filiados à nada, nem ninguém, afinal, todo mundo tem desculpas para não fazer. Nós queremos fazer e fazemos e foda-se o mundo e a lei hipócrita que acoberta a discriminação”.
ARTIGO DO DEPUTADO MARCOS ROLIM PT/RS SOBRE O EPISÓDIO DE AÇOITAMENTO CONTRA O CAPITÃO GAY O Relho e o Arco-Íris O desfile do último dia 20 de setembro de 2002 em Porto Alegre produziu um incidente tão lamentável quanto significativo. Refiro-me, obviamente, às agressões de que foi vítima o advogado José Antônio Cattaneo logo após ter acenado com a bandeira do movimento gay em frente ao palanque oficial do evento. Cattaneo foi cercado por cavalarianos que o espancaram com golpes de relho. Ato subseqüente, cerca de 10 deles o perseguiram pelas ruas centrais da cidade na tentativa de consumar a surra de rebenque. Sabe-se bem o nome da “tradição” a qual pertencem os agressores: trata-se da homofobia que nos foi legada pela Idade Média, época, aliás, onde, presume-se, os ditos cavalarianos sentiríam-se em casa. Cattaneo estava devidamente pilchado e cavalgava como todos os demais participantes do desfile. Não assumiu qualquer postura provocativa, não ofendeu quem quer que seja, nem contrastou os rituais do próprio MTG. Apenas retirou do bolso uma bandeira com as cores do arco-íris e acenou com ela. Foi o que bastou para despertar a ira dos que o agrediram. Esse é o fato relevante e o que deveria indignar a todos. Temos no Brasil uma longa história com o instrumento usado pelos agressores de Cattaneo. O chicote foi aqui usado para punir os índios que se recusavam ao trabalho e, há pouco mais de cem anos, ainda era empregado em praça pública para a punição dos negros escravos. A chibata já foi, também, o meio preferencial para subjugar os marinheiros e esteve, sempre, de uma forma ou de outra, a serviço da dominação dos humildes, dos desgraçados, dos condenados. Usado nas lides campeiras, o relho é a extensão violenta da mão que fustiga um animal. Por conta disso, para além da violência, bater em alguém com um relho é, simbolicamente, uma forma extrema de humilhá-lo. As mãos que empunharam os rebenques contra Cattaneo, por isso mesmo, são as mãos dos feitores que carregamos na alma; são as mãos dos torturadores que ficaram tatuadas em nossa história. Fosse outra a bandeira desfraldada pela vítima não se produziria qualquer reação, ainda que fosse a da TFP. A bandeira do movimento gay, entretanto, simboliza algo que, para os agressores, é em si mesmo inaceitável: ela dá conta da tolerância diante da diferença e do respeito que devemos a todos, algo assim que expressa a democracia e que se afasta das pataquadas de gente que faz da ignorância um estilo e da covardia um compromisso. Para estes, penso que o relho seja mesmo um símbolo adequado; quanto ao futuro do nosso país, espero que ele esteja muito mais próximo dos Direitos Humanos e do arco-íris. (setembro de 2002) |
“Cattaneo provocou a ira de indivíduos incapazes de lidar com o próprio preconceito”, analisa a desembargadora Maria Berenice Dias, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. “Por que não pode existir um gaúcho gay de bombachas? Isso não agride ninguém.”
ENTREVISTA COM O CAPITÃO GAY
– JOSÉ ANTONIO SAN JUAN CATTANEO –
POR OSMAR RESENDE
Como foi o primeiro amor?
Minha primeira relação amorosa foi com minha Mãe. Não foi nenhuma Brastemp, por que foi cesariana. Não consegui “sentir o gostinho” do parto normal. Mas, tudo bem! Foi manobra do médico, ela não teve culpa. Conforme testemunhas, eu não queria sair de lá. Aliás, primeira e duradoura, pois até hoje, nesta hora, continuo apaixonado pela minha mãe. Amo a minha mãe, que, ainda adotou o Capitão, depois de ter este filho crescido. Ela mora comigo.
O garoto virou cresceu… Como é seu lado militante?
A militância do Capitão consiste em participar nos eventos em que é convidado e, nos que, não é convidado, com preferência especial por aqueles onde não é desejado ou é ameaçado, principalmente eventos homofóbicos. Também utilizamos a Coluna do Meio como elemento de defesa de idéias e denúncias de violação de direitos. A Razão (como nasceu) da Coluna está na primeira publicada, que, agora, não sei se foi naquelas cópias das antigas colunas. A militância consiste no desafio e enfrentamento permanente das convenções preconceituosas e discriminantes, especialmente o Movimento Tradicionalista Gaúcho, último baluarte homofóbico com apoio governamental oficial neste estado.
E as candidaturas políticas?
O nascimento e a transformação em/do Capitão está explicado no site ( www.capitaogay.com.br ). Já fui candidato a vereador em 2000 (candidatura com ampla cobertura na imprensa: Veja, Isto É, Época, Zero Hora, etc…) e à Deputado Estadual em 2002 (ano da 1ª Cavalgada Gay – também com ampla divulgação).
Qual a importância de sua Coluna do Meio, no jornal Diário da Manhã?
A Coluna é militância pura, dissimulada de colunismo.
Assim como as campanhas eleitorais foram utilizadas em prol da visibilidade, para discussão de questões polêmicas. Cansei de concorrer, é muita podridão. A razão de ser do Capitão é proporcionar o debate sobre temas importantes, criando situações de conflito de idéias. Não é uma militância covarde, nem submissa. Não aceita donativos, apoios, patrocínios de qualquer órgão de governo ou partido político. Divulga a Paz e o Amor, com Respeito pelas diferenças. Busca no diálogo, o caminho para o encontro de soluções, mas não foge da raia, nunca. O jornal não impõe limites. O Diretor é o maior vibrador (não confundam, por favor!) e incentivador. Não pago nada ao jornal, nem recebo remuneração qualquer.
Suas idéias são bastante polêmicas. Por exemplo, a Delegaycia…
A Delegaycia para Homossexuais, morreu na gaveta do preconceito daqui, como a sugestão para o fórum do Orgulho Gay, o Forgay.
Como foi o atentado de 2003?
O atentado de 2003, foram tiros de arma de fogo disparados contra o nosso acampamento (a camionete continua perfurada), durante o descanso noturno, no caminho para Porto Alegre (no município de Barra do Ribeiro). Fomos atendidos/socorridos pela Polícia Rodoviária Federal que nos escoltou até o Posto mais próximo. Ali, no tiroteio, acabou a Cavalgada. Conseqüências? Nenhuma. A caça aos gays, aqui, é liberada todo o ano. Em 2002 fui espancado na Parada Farroupilha (20 de Setembro), em frente ao Governador do Estado, Olívio Dutra, e outras autoridades (Legislativo e Judiciário), na capital. Tudo filmado, transmitido ao vivo e fotografado. Mas, incrivelmente, até hoje nenhum dos agressores tradicionalistas foi identificado.
O espancamento foi publicado (uma página com fotos) na Isto É ou Época daquela semana de 21/set/2002. Saiu em vários jornais estaduais também.Tenho alguns. Tive Orgulho em apanhar de Mango (instrumento de açoitar o cavalo). Foi uma das emoções mais lindas que já tive. E as autoridades, as mais altas do Estado, ali, omissas de corpo presente. Desmascaramos (com a ajuda dos meus leais amigos que não deixei desfilar) a homofobia reinante e secreta, com apoio oficial do governo estadual.
Fale-nos sobre este maravilhoso projeto, o FORGAY.
O FORGAY foi apresentado formalmente ao Legislativo e ao Executivo municipais e publicado na Coluna. Aqui, ninguém quer saber do assunto. Existe uma cultura homofóbica não declarada, que ficou bem visível no episódio da Ala dos Veadinhos da escola de samba São Clemente (discursos na Câmara e ameaça de processar o Milton Cunha e a escola). Gritei e xinguei todo mundo pela coluna e defendi o Milton, a quem não conhecia. Fui ao Rio levar meu abraço ao militante e carnavalesco Milton Cunha e fui feliz. Sem estar previsto, desfilei com meus trajes gauchescos, comandando a Ala dos Veadinhos e conheci pessoas maravilhosas. Este é o Capitão, pura emoção. Ele faz por que acredita que está certo e, não porque vai dar certo. Depois do carnaval, voltei ao Rio, em Junho, para a Parada Gay de Copacabana. Muitas Fotos e lembranças.Fiquei na casa do pessoal da São Cleo. O FORGAY é o resultado de muita avaliação sobre nossos problemas e nossas necessidades, que constatei por viver neste estado “machista” e confirmei atravessando parte do Brasil (do Rio fui para São José do Rio Preto em SP) e conversando com muita gente, na Rainbow Turbo Cap (nota: é assim que o Capitão chama sua camionete). A proposta não está voltando, aqui, ela não vai nascer e crescer. Ela foi presenteada ao Beagay e à Libertos Comunicação, pois acredito que, depois de discutido, vocês entendam a essência da proposta.
Sonhei com o Fórum (sem partidos políticos), como sonhei que devia alertar sobre a exploração da Universal. Sou a favor da fé, mas contra a exploração religiosa neste país, mesmo não acreditando em Deus (Deus Não Existe – já foi matéria da coluna). O Forgay é como o Capitão Gay: uma idéia. O Capitão estou conseguindo manter vivo (por enquanto!) mas, o fórum precisa de uma legião de boa vontade para mover imprensa e comparecer na mídia televisiva nacional para divulgá-lo. Não sou pessoa, nem o Capitão o é, de influência, berço rico, amizades importantes, pelo contrário, valorizamos mais a lealdade dos travestis nossos amigos, do que as conversas insinceras dos políticos e celebridades. Estou dividindo meu sonho com vocês. Não escondo nada, não quero nada, além da satisfação de saber que pude contribuir para a melhoria de nossas condições. É para isso que vai servir o fórum. O nosso fórum. Com nossa gente assumida. Nossos assuntos. Nossos pontos de vista. Nossos problemas. Nossas famílias. Nossos amigos e simpatizantes. Nossas críticas. Nossa tomada de posição. Nossa gente. A nossa vez e a nossa voz, falando sobre nós. Papo sério, científico, questões sociais atuais, religiosas… O fórum é o caminho e o arco-íris nosso destino.
O que aconteceu na Praia do Cassino?
Dia Internacional do Orgulho Gay na Praia do Cassino Fomos convidados pelo organizador (infelizmente a tia já o levou para o outro lado). Iniciativa particular. Houve uma concentração ao entardecer, depois desfilamos em carros e caminhões puxados por um trio-elétrico (o Capitão foi em cima do trio elétrico dançando e cantando com os travestis e transformistas) pela avenida principal da praia. Acho que foram quase três horas de desfile – a carreata não andava, completamente lotada. Terminada a carreata, fomos para o ginásio Portuguesão, onde houve apresentação de shows, discursos e dançamos toda noite com o público presente. Havia vereadores e secretários municipais. Como o organizador (Carlos Ely) morreu, não houve mais nenhum.
Como foi a reação da Igreja Universal sobre seu “impiedoso” artigo?
Sobre a Universal Church, nenhuma resposta. Acho que nenhum deles leu a matéria. Nem sobre o desafio se manifestaram. Outras pessoas, inclusive que não sabia liam a Coluna adoraram. Foi a primeira vez que alguém disse a verdade sobre a Universal, de forma tão sincera, em Pelotas (não sabemos sobre o resto do país). Está autorizada a reprodução e divulgação da matéria por qualquer meio. É publica.
E esta maldade de que em Pelotas há falta de Homens…
Acho que escrevi sobre a matéria publicada em alguma revista de circulação nacional. Não lembro bem. Assino Isto É e IE Gente. Sobre proporção estatística em Pelotas, não há como revelar este dado por que não apurado. Quem disser que somos maioria ou quem disser que somos minoria, não poderá provar.
Como é essa história de Pelotas ser Pólo Exportador?
Foi uma conversa do Lula com o nosso candidato à Prefeito pelo PT, que foi gravado em vídeo e divulgado uma única vez. A Juíza Eleitoral censurou a divulgação. Ficou o dito pelo não dito.
Atuação em ONGs.
Não participo pessoalmente. A coluna divulga e apóia o trabalho delas. Conheço pessoas e tenho amigos na Vale a Vida (onde será a reunião sobre a Parada Gay). Colocarei em contato com vocês. Os endereços eletrônicos de vocês já coloquei na coluna deste dia 12 (vai pelo correio).
E a Violência ?
Não há estatísticas divulgadas pela Secretaria de Segurança. Conheço casos pessoais de amigos vítimas da violência policial, mas eles não querem registrar. Este, talvez, seja um dos motivos de não dispormos de estatísticas. Eu mesmo já fui vítima e, como comentei, se a violência é praticada de dia, na frente de todas as máximas autoridades de um Estado, queixa registrada (mesmo não precisando, pois foi fato público e resultado da discriminação), agressores identificáveis porque são conhecidos, e ninguém é punido, o que se dirá do resto do povo neste estado? A impunidade campeia por aqui, sob os aplausos das autoridades. A Rainbow Turbo Cap, apesar dos tiros, ainda existe. Estivemos prestigiando recentemente (na páscoa) o Glamour Gay em Arroio Grande. Também puxou o desfile (carreata) pela cidade. Este foi o terceiro ano que comparecemos. É a festa mais lida do extremo sul do estado.
Existe um turismo GLS em Pelotas?
Não existe. O problema aqui é de mentalidade. Existe curso superior de turismo, mas este tipo de turismo não é abordado. O Capitão tem projeto para um Hotel Fazenda Gay, que já foi divulgado.
Como é o seu dia-a-dia?
Sou advogado e viajo muito. Conheço mais do que acontece nas outras cidades do que propriamente aqui. Moro na zona rural. Quando estou em Pelotas, estou fora da cidade, meu escritório é em casa. Desde 98 trabalho em casa. Estou geograficamente fora da sede do município. Sou um eremita em busca da paz, que não vive sem as confusões que o Capitão arruma por tudo que é lugar por onde passa.
Quem quiser entrar em contato com o Capitão Gay San Juan Cattaneo o e-mail é:
Para terminar uma simples frase (escrita na Rainbow Turbo Cap), que encerra uma maneira de viver : Com Libertad, Ni Temo, Ni Ofendo. E quem quiser entrar em contato com o capitão é só mandar um e-mail para [ rs087624@via-rs.net ] ou visitar o site: www.capitaogay.com.br